O tempo passa, o tempo voa, mas...

         Em 1484 os inquisidores Heinrich Kramer e James Sprenger, respectivamente prior de Salzburgo e deão da Universidade de Colônia, nomeados pelo Papa Inocêncio VIII para o julgamento de feiticeiras na Alemanha, publicaram o manual Malleus Maleficarum ("O Martelo das Feiticeiras"). Lá pelas tantas da "obra" ensinam que "... se nem as ameaças nem as promessas a levam a confessar a verdade, então os oficiais devem prosseguir com a sentença, e a bruxa deverá ser examinada, não de alguma forma nova ou estranha, mas da maneira habitual, com pouca ou muita violência, de acordo com a natureza dos crimes cometidos. E enquanto estiver sendo interrogada a respeito de cada um dos pontos, que seja submetida à tortura com a devida frequência, começando-se com os meios mais brandos; o Juiz não deve se apressar em usar dos meios mais violentos. E enquanto isso é feito, que o Notário a tudo anote: de que modo é torturada, quais as perguntas feitas e quais as respostas otidas. (...) Se após a devida sessão de tortura a acusada se recusar  a confessar a verdade, caberá ao Juiz colocar diante dela outros aparelhos de tortura e dizer-lhe que terá de suportá-los se não confessar. Se não for induzida pelo terror a confessar, a tortura deverá prosseguir no segundo ou no  terceiro dia, mas não naquele mesmo momento, salvo se houver boas indicações de seu provável êxito. (...) Antes da sessão de tortura seguinte, o próprio Juiz ou outros homens honestos deverão tentar persuadi-la, por todos os meios que estiverem a seu alcance, para que confesse a verdade de forma que dissemos, dando-lhe, se lhes parecer conveniente, a promessa de que sua vida será poupada."

          Entrevistado anteontem,  Leon Panetta, diretor da CIA, confirmou o uso de "técnicas de interrogatório" para a obtenção de informações que levassem ao paradeiro de Osama Bin Laden. Admitiu o uso do chamado "afogamento simulado" para essa finalidade.

          Que surpresa! "A maior democracia do planeta" se utiliza de tortura para arrancar "informações" de seus prisioneiros!

          Em pleno Século XXI eles continuam a usar métodos que advém da época da caça às bruxas, da "Santa Inquisição", e que eles se tornaram especialistas e trataram de disseminar aos regimes autoritários, especialmente às ditaduras latino-americanas, na segunda metade do século passado. 

         Quanta hipocrisia! Quem não sabe onde e por quem foram treinados os carrascos dos "nossos" DOPS e DOI-CODI? Quem não sabe no que consistiram as Operações Condor e Bandeirantes? E agora, alguém tem dúvida para que fins é mantida a prisão de Guantánamo?