segunda-feira, 16 de maio de 2011

Corrente


Roscoe P. Coltrane
       Circula na Internet um texto, sem autoria indicada, que dá conta da existência, em uma cidadezinha do interior do Arizona, nos Estados Unidos, de uma "cadeia-acampamento", dirigida pelo Sheriff  Joe Arpaio. O dito cujo - que já teria sido reeleito para esse cargo várias vezes - aparece em uma das fotografias que ilustram a "preciosidade". É um velho caipira, que se gaba de ser republicano (figura que lembra os policiais trapalhões e corruptos Roscoe P. Coltrane e Elroy P. Lobo, respectivamente desmoralizados nos antigos - e ótimos - enlatados "Os gatões" e "Xerife Lobo". Ele dirige a tal prisão, que fica no meio do deserto, sob fortíssimo calor, sendo constituída de tendas de lona, cercadas por arame farpado e guardas. Orgulha-se de ter retirado qualquer regalia aos presos e de forçá-los a, em chain gangs (acorrentados), trabalhar em estradas, em construções etc. Cortou tv a cabo (exceto canais de previsão do tempo e de desenhos animados), cigarros, livros, revistas e até o café.  Além do tradicional fardamento listrado, os presos são obrigados a usar roupas de baixo cor-de-rosa.
      Consta que, a título de argumento, diz:  "Nossos soldados estão no Iraque onde a temperatura atinge 50° C, vivem em tendas iguais a vocês, e ainda têm de usar fardamento, botinas, carregar todo o equipamento de soldado e, além de tudo, não cometeram crime algum como vocês. Portanto, calem a boca e parem de reclamar".
       O texto conclui (com a sapiência de um gorila), que "se houvessem mais prisões como essa, talvez o número de criminosos e reincidentes diminuísse consideravelmente", pois "criminosos têm de ser punidos pelos crimes que cometeram e não serem tratados a pão-de-ló, tendo do bom e melhor, até serem soltos pra voltar a cometer os mesmos crimes e voltar para à vida na prisão, cheia de regalias e reivindicações". "Muitos cidadãos honestos, cumpridores da lei, e pagadores de impostos não têm, por vezes, as mesmas regalias que esses bandidos têm na prisão."
       Culmina com a informação de que toda a baboseira foi extraída de um documentário da televisão americana e, por fim, propõe que "se achar que é uma boa ideia", o leitor ajude a divulgá-la (repassando o e-mail a seus conhecidos).
       Hoje, no glorioso "Domingão do Faustão", o ex-obeso apresentador entrevistou um idiota que deve ter achado boa a tal ideia. O sujeito foi até a prisão norteamericana e conversou com o xerife Joe. Mostrou as imagens que fez no local e respondeu às óbvias perguntas formuladas a ele no palco, entre um "ô loco, meu!" e outro. Logo em seguida o auditório foi consultado e opinou favoravelmente à iniciativa do "delega yankee".
       Cá comigo fico matutando: nós, aqui no Brasil, deveríamos observar seriamente o exemplo, essa proposta nazista-light de colocação de gente em neo-campos de concentração. Também seria de bom-tom lançar mão de trabalho escravo, numa releitura contemporânea do Antigo Testamento. Afinal, chega de tratar "a pão-de-ló" os nossos delinquentes! Não é possível continuarmos a fornecer-lhes tudo "do bom e do melhor", em instalações formidáveis, com cama, comida de primeira e roupa lavada. A tv a cabo que nossos convictos estão assistindo nas penitenciárias verde-amarelas está saindo muito caro para "os contribuintes"! Roupa fúcsia neles!
  
PS: nos presos, não nos contibuintes...

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