domingo, 31 de julho de 2011

Eu te conheço desde o outro carnaval


       Não era preciso ter formação jurídica para prever que o Brasil não perderia ponto algum pela inclusão do jogador Claudio na vitória contra o Santo André. Assim, a anunciada (pelo DP e RU) "perda dos pontos" não se confirmou no julgamento realizado pela Justiça Esportiva na sexta-feira passada.
       Com isso, um dos "furos" do Cabral se resolveu (eventual recurso também estará fadado ao fracasso). O outro, conforme lembra a torcida xavante, ainda está abertinho...

terça-feira, 26 de julho de 2011

Durma-se com um barulho desses...

      
       A Mãe Diná errou. O Uruguai venceu o penoso Peru e, na final, aniquilou o Paraguai. Ganhou a pior Copa América de todos os tempos (tendo sido, é verdade, o único time que se salvou da pobreza futebolística generalizada que se viu nos gramados portenhos).
       Jamais torço pelo Uruguai. Para mim, torcer para eles, uruguaios e argentinos, é o mesmo que torcer para o Pelotas, para o Grêmio ou o Internacional. Impossível! Tenho-os, sempre, como adversários por excelência. Quero que se danem! Todos, igualmente.
       Entretanto, como concessão e reconhecimento à vitória deles (que há milênios não ocorria, aliás), reproduzo texto do David Coimbra publicado hoje na Zero Hora. 
       "Honra à tradição. O Uruguai campeão da América é um time sem moicanos. Um time em que seus principais jogadores, os atacantes Forlán e Suárez, combatem, preenchem espaços, deslocam-se, incomodam os zagueiros adversários o tempo todo. O Uruguai honra as tradições da Celeste Olímpica. Parece um time do passado. É do futuro."
       Deu. Não se fala mais neste assunto.

A Montanha dos Sete Abutres

      
       Somente há poucos dias vi "A Montanha dos Sete Abutres" (Ace in the Hole), em DVD comprado nos camelôs, gravado do TeleCine.
       O filme, produzido e dirigido por Billy Wilder, é de 1951. Embora seja - hoje - considerado um clásico, foi - à época - mal recebido pela crítica e fracassou comercialmente.
       Nele, Charles Tatum (interpretado por Kirk Douglas) é um jornalista decadente que, após onze seguidas demissões de  grandes jornais norteamericanos, acaba se empregando, em troca de um salário miserável, em um pequeno jornal de Albuquerque, no Novo México. Sua meta, no entanto, é retomar - o mais breve possível - seu antigo status, precisando, para isso, realizar uma reportagem importante, que chame  a  atenção da "grande imprensa".
       E a chance disso se tornar realidade aparece para ele quando, a caminho da cobertura de uma caça a cascavéis em pleno deserto, depara-se, por acaso, com um fato que, na sua concepção, "bem trabalhado", pode render notícia, venda de jornais. Um sujeito chamado Leo Minosa (Richard Benedict) ficara preso, meio soterrado, em uma antiga ruína, um túnel que abrigava velho cemitério indígena, na Montanha dos Sete Abutres. Sem um mínimo de escrúpulos, com o intuito de gerar o máximo de comoção, o jornalista acaba convencendo o venal xerife da localidade (de olho na própria reeleição) a manter o acidentado na caverna por uns dias (tempo que levará para que de lá seja retirado a partir de um túnel a ser perfurado pela parte superior da montanha), em vez de providenciar o socorro a partir do escoramento das paredes do túnel (forma mais simples e tecnicamente adequada para o caso). Então, com exceção do infeliz Leo, todos na volta começam a tirar proveito da situação, incluindo a mulher dele, Lorraine (Jan Sterling), que já está cansada do casamento, de viver naquele lugar isolado.
       A partir da publicação das matérias sensacionalistas de Tatum no jornaleco de Albuquerque, o caso ganha grande repercussão nacional, fazendo com que toda a imprensa americana volte seus olhos para o drama do soterrado. Assim, centenas de pessoas acorrem às proximidades da caverna. Arma-se um parque de diversões nas redondezas. O paradouro dos Minosa permanece cheio dia e noite, vendendo como nunca. Consequentemente, as propostas a Tatum vêm de todos os grandes jornais americanos. Querem a cobertura com exclusividade, querem-no de volta.
       Ninguém, no entanto, está preocupado com o Leo. Cada um, a sua maneira, quer saber do seu lado, seja o jornalista picareta, sejam os chefões dos jornais que visam o incremento das suas vendas, seja a mulher interessada em recomeçar sua vida com alguma grana no bolso, sejam as famílias que chegam em trêilers para acampar e consumir os produtos que as circunstâncias oferecem.
       O final do filme, para Leo Minosa é diferente do final do episódio dos 33 mineiros da mina chilena, resgatados no ano passado. Leo morre. Não suporta o tempo de espera pelo socorro empreendido pelo método mais difícil, mais demorado, espichador do fato. Os mineiros acabaram, todos os 33, sãos e salvos pelas providências adotadas pelo governo do Chile (que, sem dúvida, obteve dividendos políticos com o acontecimento). Todavia, atualmente - passado o salvamento dos mineiros - o presidente Piñeda vem enfrentando séria crise, alcançando índices baixíssimos de popularidade. Coincidência ou não, poderá ele ter, politicamente, o mesmo fim que o jornalista Tatum teve na película de Billy Wilder.              

domingo, 24 de julho de 2011

Ditado bestial

RI MELHOR QUEM
COME PELAS BEIRAS
UM CAVALO QUE PASSA ENCILHADO


terça-feira, 19 de julho de 2011

Mãe Diná

Ganso, Pato, Falcão...
os de penas estão numa fase de dar dó.
Todavia, amanhã, contra a castelhanada
(que já está se achando a sétima maravilha do mundo!) o Peru fará o crime.
Anotem aí. 

Ainda bem!

       Nascido em 1960, entre a primeira conquista fundamental do nosso futebol (em 1958) e a segunda (em 1962), eu era muito pequeno em 1966, razão pela qual não cheguei a entender e, muito menos, sofrer com o fracasso canarinho na Inglaterra.
       Gurizinho e começando a me interessar por futebol, vibrei com a consagração de Pelé  & Cia. no México, em 1970. Na sequência, em 1972, nem desconfiei da vitória da seleção na Mini-Copa (bem a calhar, no auge do "milagre brasileiro").
       Depois, já completamente fanático por futebol, sofri minha primeira grande decepção, em 1974, na Copa da Alemanha: a derrota para a Holanda! Impossível admitir que a seleção, a nossa seleção, perdesse para algum outro time (não importando que, no outro time, jogassem uns tais de Cruyff e Neeskens. 2x0 para aqueles holandeses nojentos, que não paravam em campo, não guardavam posição e não nos deixaram jogar! Resultado: cama, vômito, febre, vontade de não mais gostar de futebol. Não vi o jogo seguinte (nova derrota, para a Polônia de Lato, que significou a perda do 3º lugar da Copa para os polacos), nem quis assitir à final da Copa.
       Adulto, continuei torcedor da seleção, acompanhando, como tal, algumas vitórias inesquecíveis (inclusive nas Copas de 1994 e de 2002) e derrotas constrangedoras (como as de 1982 e de 1998).
       Nunca, entretanto, tinha experimentado a reação que tive com o vexame de domingo, quando fomos derrotados nos pênaltis pelos medíocres paraguaios: ri. Achei graça da forma como um atrás do outro, Elano, Tiago Silva, André Santos e Fred mandaram a Jabulani à merda. Nem um gol durante os 90 minutos; nem um gol durante a prorrogação; nem um gol da marca da cal...
       E quando a reação é essa, vai naturalmente ficando cada vez mais difícil continuar torcedor.
       A CBF, o Ricardo Teixeira, a Nike, a Rede Globo, o Galvão Bueno, o Mano Menezes, o Ganso, a crina do Neymar, tudo, enfim, conspira para que me retorne, perigosamente, a tal vontade de não mais gostar de futebol. Só que agora desse futebol aí, não do futebol perto da gente, do futebol de verdade, do campo, da arquibancada, do Brasil, Brasil-Xavante, que quando menos se espera, vai a Santo André e volta com 3 pontos!

Vai comendo essa massinha!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Mambembe


Fotografia de Alexandre Schlee Gomes


terça-feira, 12 de julho de 2011

Dá corda, Pelotas!

Zzzzzzzzzzzzzz
De muito bom gosto o relógio recentemente inaugurado, instalado sobre jazigo especialmente construído na frente da Prefeitura Municipal.
Único senão: o fato de não funcionar.
Mas o Sete de Abril também não funciona há horas. Ah, e o Mercado Central, o Grande Hotel ...  

sábado, 9 de julho de 2011

Brasil - camisa (de força) verde-amarela

RIO-GRANDINA É ÚNICA
BRASILEIRA EM MUNDIAL
DE FOSSA OLÍMPICA*

Cibele, durante a realização da matéria: "Oh, vida! Oh, céus!"

Rio Grande - No bucólico Balneário Bolaxa, a rio-grandina Cibele Fraga está se preparando para a disputa da Copa do Mundo de Fossa Olímpica, que será realizada em Belgrado, Sérvia, no próximo mês de setembro. Tarja negra na modalidade "Depressão Leve", nem o acompanhamento psiquiátrico vem evitando a involução de Cibele, em que pese o desânimo demonstrado para atingir sua meta atual: passar para a categoria "Depressão Profunda". Embora ela duvide de que possa levantar o caneco no leste europeu, as chances da papareia são grandes no Mundial, na medida que sua mais forte concorrente, a sueca Ingrid Brigit Bjorgson (a famosa "Tristonha de Jönköping"), suicidou-se na semana passada.

*Manchete do Diário Popular deste sábado ensolarado

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Brrrrrrrrrrrrrrrr (por Martha Medeiros)*

*Crônica publicada
originalmente na
Zero Hora de ontem
       Aos 16 anos, eu não conseguia admitir que alguém pudesse gostar de inverno. Só podia ser maluco, deprimido, estressado ou coisa pior. Não fazia sentido. Na época, era fanática pelo verão, e meus argumentos pareciam irrefutáveis: ora, no verão ficamos perto do mar, usamos menos roupas, saimos mais de casa. No verão os dias  são longos, praticamos mais atividades físicas, comemos mais saladas. Quem trocaria braços abertos sobre a Guanabara por braços cruzados e mãos embaixo da axila? Quem preferiria correr o risco de se gripar dia sim, outro também? E quem haveria de considerar agradável sair debaixo das cobertas de manhã cedo para enfrentar um dia que nem virou dia ainda?
       Mas isso foi aos 16. Cresci, amadureci e me reconciliei com o inverno. Passei a valorizar os casacões, as botas, o vinho, a lareira, as paisagens serranas, enfim, o lado romântico da estação. Cheguei a admitir em um poema que o inverno era minha estação preferida. Provavelmente, uma tentativa de que me levassem mais a sério. Adultos respeitáveis não combinam com bermuda, e sim com sobretudos. Não ficam rindo à toa, mantêm a classe da sisudez. Não tomam chope, não dançam em rodas de samba, odeiam Carnaval, nunca foram fotografados em situações vulgares. Escritores, menos ainda. Imagine uma Marguerite Duras de biquíni em Capão, um Philip Roth de sunga tomando banho de mangueira no quintal.  Cachecol é que dignifica os intelectuais.
       Segui vivendo, amadureci mais um pouco e finalmente cheguei a uma conclusão definitiva: às favas  com minha credibilidade, que a adulta em mim procure asilo na Sibéria. Hoje afirmo, assino embaixo e reconheço firma em cartório se for preciso: tenho pavor de sentir frio. A elegância que os dias gélidos me conferem não compensa a leveza e o bom humor que me são subtraídos. E o vinho tinto eu tomo em qualquer estação.
       Só quem ganha com o inverno é o turismo, já que o frio é nossa principal atração turística. No mais, quem em seu juízo perfeito iria curtir passar o dia com o nariz gelado, as pernas enrijecidas e sentindo-se tentado a matar o banho? Quem não se assusta com o valor da conta de luz no fim do mês? Mulheres, me ajudem: como se vestir adequadamente para um casamento numa noite em que faz 4°C? E vocês, rapazes, têm tido coragem de tirar as meias antes de dormir?
       Cresci, amadureci, mas não adiantou nada: contrariando a evolução da espécie, voltei ao tempo em que era movida a energia solar. Menos mal que sempre teremos intelectuais de cachecol para salvar a pátria.

Cold cold ground*

Mas o que é isso?
Cadê o tão anunciado "aquecimento global", que ia elevar as temperaturas no planeta?
Estou há dias congelado,
apesar de entrouxado,
apesar da touca na cabeça,
do lençol elétrico, dos aquecedores...
Será que as calotas já se desprenderam dos pólos e vieram atracar aqui no cais velho de Rio Grande?
Afinal, pinguins - aos montes -
já são nossos vizinhos, no além São Gonçalo.
E todos os cuscos estão rengos, já notaram?
Dane-se o frio!
Dane-se o frio e sua estética!

*Título da música de Tom Waits, faixa 2 do disco Franks Wild Years (1990).

Desenho da Ana Carolina (Flor) em guardanapo de papel.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Itamar: melhores momentos

       Morreu o ex-presidente Itamar Franco. Como o falecimento ocorreu no fim-de-semana, o político mineiro foi poupado pelo Diário Popular, não tendo sido possível ao André Macedo colocar no papel sua tradicional charge "de despedida". Com certeza ele lamentou a perda da oportunidade de desenhar o Itamar subindo ao céu num fusquinha.
       Como forma de homenagear Itamar, o BF foi buscar no baú aquela famosa foto em que topete e cavanhaque se aproximaram perigosamente, numa momesca festa de antanhos.


Leitura labial

                                 (Itamar) - A senhorita é de Varginha?
                                 (Lilian)  - Uai, cumé que o sor adescobriu?
                                 (Itamar) - Bservando...


Diazepan

Direto do Vaticano, a imagem de Dom Jacinto, já calminho, depois de receber o Valium do Santo Padre.

Ornitorrinco

       Enquanto almoçávamos em um restaurante, ontem, minha sobrinha de quatro anos desenhava. Dado por terminado o desenho, estendeu a folha branca para mim, de presente: "toma, Tio Didi. Um orincorrinco." Perfeito. Linda espécime que é, na verdade, uma mistura, uma junção de sobras de outras espécimes. Compartilhem o bicho, no traço da Helena (com direito a assinatura e tudo).


  

El Ornitorrinco (Daniel García Helder)


Negado por la naturaleza como sin duda
lo hubiera querido hacer su padre, vuelve a estornudar,
mezcla de varias especies que tras disputarse el predominio
se dieron todas por vencidas, abandonando el terreno.
Con varas de nardo su genio personal
debe estar haciéndole cosquillas en la nuca
para que sonría así, estirando dos labios de camello,
por debajo de un objeto nasal de neto corte papú.
El cuello deprimido, nada de pelo sino pelusas de fruta,
dedos aporcados sobre un vientre de botella y zambo
para que a ojo el diseño no carezca de una base
acorde el ángulo cerrado de los hombros,
grogui de pie en el sol sigue con ojos pisciformes
los aleteos de una docena de passeriformes
tomando baños de polvo y pío pío.
Te digo que si un cagatinta quisiera, con un bollo de papel
desde cualquiera de esas ventanas del Ministerio,
probar puntería en su mollera rosada
ya no podría: un viejo cuyo cutis se parece
al hollejo de la uva cuando la pulpa es expulsada
con semillas y todo por la boca, violentamente,
ahora está parado adelante de él
y con un pañuelo que saca del bolsillo
le aprieta la nariz diciéndole sonate.

domingo, 3 de julho de 2011

Estádio!

       Ouvi na Rádio Pelotense, durante um programa esportivo, os jornalistas debaterem a respeito dos futuros jogos do Xavante pela Série C do Campeonato Brasileiro. Informaram que, contra o Joinville, a partida será jogada na Arena Joinville (até 2004 o time daquela cidade mandava seus jogos no Estádio Ernesto Schillen Sobrinho). Já o jogo contra a Chapecoense acontecerá na Arena Condá (atual nome do velho Estádio Índio Condá). A propósito, o pessoal do programa lembrou da "arena" que o Grêmio está construindo em Porto Alegre, bem como da "arena" do Atlético em Curitiba. Acharam que é "moderno" batizar-se (ou rebartizar-se) os estádios de "arenas", Brasil afora.
       Desculpem-me, mas, neste país, ARENA nunca poderá ser sinônimo de moderno. ARENA, historicamente, tem a ver com o retrógrado. ARENA será, para sempre, a sigla da malfadada Aliança Renovadora Nacional, criada pelo regime militar através do Ato Institucional nº 2 (em 1965) e que até o retorno do país ao pluripartidarismo (em 1979) aglutinou todos os "quadros" que eram subservientes aos militares.
       Assim como certos clubes aposentam números de camisetas, não mais os usando como uma homenagem a grandes jogadores que os imortalizaram dentro dos campos, a palavra arena - em contrário senso,  - deveria ser, por sua triste conotação, abolida do vocabulário nacional (e, por isso, afastada da designação de qualquer praça esportiva do país).


Com o fim do "bipartidarismo", em 1979, a ARENA virou PDS (Partido Democrático Social) que, mais tarde, trocou de nome, passando a ser, sucessivamente, PPB (Partido Progressista Brasileiro) e PP (Partido Progressista). Dissidência do PDS, foi criado o PFL (Partido da Frente Liberal (PFL), não faz muito tempo, rebatizado de DEM (Democratas). O cartum do Angeli, aí acima, diz tudo!

Camisa Brasileira

       O projeto ‘Brasil, Camisa Brasileira’, que revela imagens exclusivas dos bastidores do time rubro-negro durante a Segundona Gaúcha de 2010, acaba de concluir mais uma etapa. Depois de virar uma exposição, que ganhou até as galerias francesas, os cliques de Gilberto Perin foram reunidos em um livro especial, com 110 fotografias e texto de Aldyr Schlee. A obra será lançada às 19h desta sexta-feira, no Museu do Futebol, no estádio do Pacaembu. E na próxima segunda-feira, na livraria Cultura, no Shopping Bourbon Country de Porto Alegre, no mesmo horário. De acordo com o próprio autor, as fotos incluídas no livro ‘revelam a alegria, a dor, a religiosidade, e o drama dos expulsos e machucados, apresentando imagens que hoje são inacessíveis para torcedores e a Imprensa’.

Leonardo Crizel - Assessoria de Imprensa GE Brasil futeboldepelotas.blogspot.com (30.6.11)


       O lançamento do livro "Camisa Brasileira" foi um sucesso (inclusive de público!). Enquanto os autores autografavam o belo livro, os presentes podiam escolher tomar caipirinhas ou rever o documentário "Camisa Canarinho" (que ganhou novo significado na telona do auditório do Museu do Futebol). A foto corresponde ao momento de abertura da exposição do grande Arcangelo Ianelli na Pinacoteca do Estado de SP (Aldyr Garcia Schlee, Alfredo Aquino e Gilberto Perin - os autores de "Camisa Brasileira").

Andrey Schlee (hoje)

sábado, 2 de julho de 2011

TFP*

       Ariovaldo está de volta. Ele não se aguentou por muito tempo sem nos dar o seu recado. Ontem, na seção de cartas, a Zero Hora publicou seu comentário "Democracia frágil" (sob o pseudônimo de Carlos Eduardo Rosa Martins). Escreveu: "Será mesmo que vivemos uma democracia? Onde foram parar os pilares básicos que sustentam tal regime? A família degrada-se ante uma sociedade decadente e sem moral; o  Estado é corroído por ideias antagônicas às necessidades de seu povo; e a religião é explorada por inescrupulosos que se locupletam da ignorância de seus fiéis."
       Ah, o homem transborda TFP pelos poros. É, TFP. Sabem, a Tradição, Família e Propriedade. Aquela "organização" composta por carolões-fascistas, que na época da ditadura andava por aí, recrutando uma gurizada para o lado deles.
       Eu tinha uns dez anos e ainda morava alí na Padre Felício, quase na esquina da Deodoro. Foi nessa época que vi quando, pelas calçadas dos dois lados da rua, se aproximaram uns sujeitos vestidos com ternos e capas pretas, carregando enormes estandartes vermelhos com adornos dourados. Eram acompanhados por uma camionete (seria uma Kombi ou uma Veraneio?), que, pelos autofalantes instalados na capota, amplificava hinos (ou marchas, sei-lá). Bah, que medo! Aquelas figuras, de trajes escuros e cabelos "escovinha", encarnavam, com todo mise-en-scène, o assustador caçador de crianças do filme "O Calhambeque Mágico" - que muito frequentou meus pesadelos na infância (quem viu o filme nos idos de 70 e  hoje é mais ou menos cinquentão sabe bem do que eu estou falando!).
       Embora possa me considerar feliz porque minha filha não corre o risco de, amanhã, bater-se de cara com esses tipos na rua, evidentemente que há Ariovaldos que pensam bem diferente, rezando pela volta da gente-que-assusta-crianças.
       Em meados dos anos oitenta - nos estertores da ditadura e da própria TFP - o grupo paulista Língua de Trapo lançou o ótimo disco Como É  Bom Ser Punk, cuja faixa 5 é "Samba Enredo da TFP". A título de exorcismo, merece agora ser ouvido (na única versão que consegui no YouTube, improvisada por um pessoal que não conheço). De brinde, a letra original (na medida que tanto na contracapa do disco como na gravação constou "Samba Enredo da TRP", e não TFP, bem como o nome de Plínio Correia de Oliveira teve de substituído por "Plínius Zorrelha Zorrilheira"). Para se recordar como a censura era "inteligente"!

SAMBA ENREDO DA TFP
(Carlos Melo / Laert Sarrumor)

TFP pede passagem, pra mostrar sua bateria
E seu passado de coragem, defendendo a Monarquia
Salve Plínio Correia de Oliveira, precursor da linha-dura
Grande baluarte da ditadura
Legislador da Inquisição, implacável justiceiro
Homem de grande erudição, lia Mein Kampf no banheiro
No tribunal de Nuremberg, defendeu o Mussolini
Sob os auspícios do Lindenberg
E hoje ele se preocupa com a infiltração comunista
No clero progressista
(E o Lefèbvre?)
Lefèbvre, fiel companheiro, incomparável amigo,
Irrepreensível mentor
Exerce completo fascínio
e vai incutindo no Plínio
o gênio conservador
Digno de um poema do Ezra Pound
quer que o Brasil se transforme
num imenso playground
No Carnaval, a escola comemora
nascimento de Nossa Senhora
E a defesa da tradição
cantando esse refrão:
Anauê, Anauê, Anauá, TFP acabou de chegar!
E hoje sou fascista na avenida
minha escola é a mais querida
Dos reaça nacional
Plim, plim, plim, plim, plim, plim, plim, plim, plim,
Era assim que a vovó seu Plínio chamava…


*Turma de Filhas da Puta!