quarta-feira, 18 de maio de 2011

Devolva nosso dinheiro! (por Luciana Genro)*

       A notícia do fechamento da Azaleia em Parobé é uma tragédia, particularmente para a cidade e para as 800 famílias diretamente atingidas. Mas, infelizmente, não foi uma grande surpresa para quem acompanha a trajetória dessa empresa nos últimos anos. Em 2005, ela fechou a unidade de São Sebastião do Caí, desempregando 2,5 mil pessoas, e em 2008 foram 800 desempregados em Portão. Agora, o Ministério Público Federal decidiu abrir inquérito para apurar como o Grupo Grendene, que controla a Azaleia, se beneficiou de empréstimos do BNDES da ordem de R$ 3 bilhões a juros ínfimos (menos de 4% ao ano), promovendo demissões em massa. O BNDES é um banco público, controlado pelo governo federal, e portanto deveria estar financiando a geração de empregos.
       No Rio Grande do Sul, a Azaleia tem recebido tratamento privilegiado. Durante o governo de Antônio Britto (1995-1998), a Azaleia foi beneficiada com incentivos fiscais que somam R$ 53 milhões atualizados. Não por acaso, esse ex-governador, ao sair do Piratini, passou a exercer a função de conselheiro da Abicalçados (Associação Brasileira dos Calçadistas) e depois ganhou o cargo de presidente executivo da Azaleia!
       A guerra fiscal é uma desgraça para o Brasil. Entrar ou não nela é uma decisão que deveria ser tomada pelo povo gaúcho, através de um plebiscito democrático no qual os prós e contras fossem debatidos. Afinal, é o dinheiro de cada contribuinte que está em jogo, portanto justíssimo que todos decidam juntos se uma empresa deve ser brindada com a possibilidade de não pagar impostos que fazem uma falta enorme aos cofres públicos.
       Mas o mínimo que um Estado deveria fazer ao decidir destinar parte dos impostos pagos pelo seu povo para uma empresa é exigir que ela devolva o dinheiro se resolver ir embora depois. Vai embora? Então devolva tudo o que recebeu de nós! Tenho certeza de que assim esta visão "migratória" das empresas iria se modificar.
       O movimento lançado pela Ajuris (Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul), reivindicando transparência na concessão dos benefícios fiscais, ganhou ainda mais importância diante do caso Azaleia. Vamos todos somar nesta campanha, agora agregando mais uma reivindicação: Azaleia devolva o nosso dinheiro!
*Publicado originalmente na edição de Zero Hora do dia 12.5.2011

       BF:
       Antônio Britto, por onde andará? O Britto é aquele cara que se criou como jornalista, na Rede Globo, e que, depois, ficou muito mais conhecido por ser o porta-voz do Tancredo Neves.
       Quem é um pouco mais velho não se esquece dele, na telinha da tv, informando o Brasil diariamente sobre o estado de saúde de Tancredo, que eleito Presidente da República, adoeceu antes de tomar posse. Ele iniciava os boletins sempre assim: "senhores, trago boas notícias!", apesar de saber que o quadro era irreversível. Em poucos dias teve que informar a morte do chefe.
       O desenrolar dessa pantomina sempre me remeteu àquela velha piada do português cuja sogra morrera, que, para dar a notícia à mulher sem grande choque, foi informando a ela: tua mãe subiu no telhado...
"Qué Melissinha?"
       E o Brito, depois de ter se tornado político e governado este Rio Grande, acabou assumindo o cargo de "presidente executivo" da Azaleia (com toda certeza devido a seu vasto conhecimento do ramo calçadista!). 
       Seria de bom-tom que a Azaleia fosse buscar o Britto de novo, antes de anunciar sua próxima onda de demissões, propondo a ele que, como seu porta-voz, discursasse aos funcionários, começando por: "senhores, trago boas notícias..."

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