Há uns anos, uma colega Pretora, a Suzana, organizou uma série de sessões de cinema no auditório da OAB local. Era o "Cine Diálogo", projeto que já vinha sendo realizado com sucesso pelo pessoal da área do Direito em Porto Alegre.
O filme escolhido para a estreia foi 12 Homens e uma Sentença (uma versão mais recente, de 1997, feita para a tv). Ela me encarregou de, no dia da "projeção", fazer uma espécie de apresentação. Como convidado especial, estaria presente o Professor Joary Reis, apaixonado e crítico da Sétima Arte, a quem caberia fazer o fecho, encaminhando o debate final.
Para cumprir minha tarefa, fiz um texto em duas laudas, contando sobre a peça que, depois, foi adaptada para o cinema, em 1957, e para a televisão, em 1997 (versão que veríamos); expliquei sobre o significado do título original (Twelve Angry Men); relacionei diretores, atores e sei-lá-mais-o-quê.
No dia, porém, o Professor Joary, alegando necessidade de sair mais cedo, solicitou que se invertesse a ordem da sua participação, o que, evidentemente, foi aceito pela organizadora do evento. Então, com a palavra, ele contou sobre a peça que, depois, foi adaptada para o cinema, em 1957, e para a televisão, em 1997 (versão que veríamos); explicou sobre o significado do título original (Twelve Angry Men); relacionou diretores, atores e sei-lá-mais-o-quê.
Ou seja: liquidou comigo. Antecipou tudo, esvaziou o que eu tinha preparado para dizer.
Então, encerrada a projeção (já sem a presença do convidado especial), confessando isso aos presentes (e tinha bastante gente!), limitei-me a distribuir-lhes cópias das minhas folhinhas.
Vi 12 Homens e uma Sentença (com o Henry Fonda e o Lee J. Cobb) pela preimeira vez há muito tempo, quando era guri. Daí em diante, por muito tempo, inclui esse filme na lista dos meus 10 favoritos. Hoje, acho que o filme ainda cabe numa eventual lista dos meus 50 bests.
Semana passada "peguei" 12 Homens e uma Sentença já em andamento na tv. Sentei e assisti até o fim, até a cena em que os jurados nºs 8 e 9 (assim tratados durante todo drama) se despedem nas escadarias da Court, apertando as mãos e dizendo um ao outro seus respectivos nomes, Davis e McArdle.
Pensei em escrever a respeito, para publicar aqui no BF. Mas, surpresa das surpresas, acabei mais uma vez sendo "atropelado" na minha pretensão. Desta vez por um texto da página 2 da ZH deste sábado. Então, em vez de distribuir minhas anotações à plateia, agora colo abaixo o que escreveu, com absoluta propriedade, a Claudia Laitano:
Quando o cineasta Sidney Lumet morreu, no sábado passado, aos 86 anos, o veterano crítico americano Roger Ebert dedicou-lhe um tocante texto de despedida, qualificando o diretor nova-iorquino como um dos grandes humanistas da história do cinema. Produtivo e lúcido até os últimos anos, o autor de clássicos como Um Dia de Cão, Serpico, e Rede de Intrigas conseguiu um feito não muito comum na carreira de artistas longevos: entrou e saiu de cena com duas obras-primas.
Seu último trabalho, o impactante thriller Antes que o Diabo saiba que Você está Morto (2007), é daqueles filmes que saem com você do cinema e o deixam desassossegado por alguns dias, antes de repousar definitivamente no arquivo vivo da memória. Mas a obra-prima que eu queria lembrar aqui é aquela que marcou a estreia de Sidney Lumet no cinema: 12 Homens e uma Sentença (1957), um dos filmes que talvez expliquem por que aquele jovem diretor seria lembrado no futuro como um dos grandes humanistas da sua geração.
Apesar de aparentemente se encaixar na categoria "drama de tribunal", 12 Homens e uma Sentença não é um título convencional do gênero. O suposto criminoso, um garoto de 18 anos de um bairro pobre de Nova York, mal aprece no filme, e ao final da história nem sequer ficamos sabendo se ele realmente matou o próprio pai ou não. o que está em jogo ali não é a construção dedutiva da verdade aos moldes de uma trama policial ou mais uma reflexão sobre os limites da Justiça em uma democracia. Tudo isso está no filme, operando na superfície da história, mas o que torma 12 Homens e uma Sentença uma obra-prima é menos a trama em que os persongens estão envolvidos (O garoto cometeu o crime? Há evidências suficientes para condená-lo à morte?) mas a forma como os juradoss interagem. O filme nos apresenta uma espécie de sinfonia humana - com cada um dos jurados encarnando tipos universais e atemporais, facilmente identificáveis em qualquer grupo de pessoas.
Há o sujeito irascível, que bate na mesa e se impõe mais pela intensidade da voz do que pela força dos argumentos. Há a turma dos retraídos, dos quais com dificuldade se extrai uma posição firme. Há os que oscilam ao sabor das opiniões alheias. Há os que querem se livrar rapidamente de qualquer tarefa para voltar logo a dedicar-se à própria vida. Há o velho sábio, mas já sem forças para se impor. Há o homem que não consegue percber os próprios preconceitos e pensa estar exercendo o direito de opinião quando, na verdade, está questionando o próprio sentido da democracia - o princípio da igualdade.
E há, claro, o personagem de Henry Fonda. Herói do tipo "homem comum honrado", que caía como uma luva no ator, o jurado número 8 representa a grandeza de todas as pessoas que lutam pela justiça e se empenham por causas alheias como se fossem suas, mesmo quando elas parecem perdidas.
Todas as vezes em que você navegar contra a maré para fazer aquilo que, intimamente, acredita que é certo, pode se orgulhar de estar sendo como o jurado número 8 - gente que faz diferença.
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