sexta-feira, 8 de abril de 2011

Palpabilidade

                        Lá na metade dos anos oitenta comprei um videocassete. Philco-Hitachi, grandão e, como era fundamental frisar na época, com "quatro cabeças". Comecei, então, a colecionar filmes em VHS. Uns precariamente gravados direto da televisão, sem muito critério; outros, bem escolhidos, especialmente gravados para mim (meio "na moita") pelo dono de uma videolocadora que ficava ali na praça.
                 Orgulhoso da minha coleção, fui surpreendido, uma vez, por uma pergunta de um amigo a respeito da minha filmoteca: "para que tu queres isso?" Como esse meu amigo, muitas pessoas não se preocupam em ter as coisas. Pensam: se quero ver um filme, pego na locadora; se quero qualquer coisa, busco na internet.
                 Eu, ao contrário, não "funciono" assim. Preciso ter por perto as coisas das quais gosto. À mão. Tenho dificuldade em descartar e com o descartável.Assim como meu velho videocassete e minhas fitas VHS (mofadas e tudo), estão comigo até hoje a máquina de escrever Olivetti Lettera dos tempos de Panambi; meu "som" Technics (incluindo toca-disco e gravador com double cassete deck); assim como centenas de LPs. Todos os meus botões antigos estão guardados, juntamente com os Matchbox da infância. (Acho até que, se, a partir deste momento, passasse exclusivamente à tarefa de ler todos os livros que tenho e ainda não li, a ver todos os filmes que juntei e ainda não vi, a ouvir os discos que estão aqui  e ainda não ouvi, o que me resta de vida não seria suficiente - e  isso que ainda pretendo viver muitos e muitos anos!)

Eu Te Amo (1981)
                  Não me serve o virtual. Preciso tocar as coisas. Para mim elas têm que ter forma, peso, cor, cheiro. Não me conformo com o virtual, o que só está no ar. O virtual não tem a tal palpabilidade que a Sônia Braga e o Pereio imortalizaram em Eu Te Amo.
                 Um tempo atrás um estagiário que estava trabalhando comigo me mostrou, no modernoso celular dele, a fotografia de uma guria muito bonita. Era, segundo disse, a namorada dele. Tinham se conhecido pela internet. Ele morava aqui e ela em... Vila Velha, no Espírito Santo (!). "Namoravam" há semanas e estavam planejando se encontrar em breve.
                 Como o Analista de Bagé, fui curto e grosso: "mandei" que deixasse de ser bobo, que não existe essa estória de namoro virtual!  
                 Acho que a "terapia do joelhaço" funcionou com o (ex)estagiário. Nunca mais falou da guria lá do Espírito Santo. Fiquei sabendo que arranjou um namorado, com quem vive nada virtualmente aqui em Pelotas. 

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