quinta-feira, 21 de abril de 2011

51 anos de Brasília (por Andrey Schlee)

                  21.04.1960
Andrey, de Brasília para o BF

            Brasília foi inaugurada em 21 de abril de 1960. Mas foram quatro dias de festa para comemorar a instalação do governo federal na nova Capital. Na véspera, no púlpito do Palácio do Planalto, o presidente Juscelino Kubitschek recebeu as “chaves da cidade” das mãos do engenheiro Israel Pinheiro, presidente da Novacap e primeiro prefeito. Logo depois, com honras militares, desembarcou na estação de passageiros do aeroporto o cardeal Dom Manuel Gonçalves Cerejeira. O legado pontifício, após passar a tropa em revista e cumprimentar as autoridades presentes, seguiu solenemente em cortejo pela cidade. Poucos minutos antes da meia-noite, em uma Praça dos Três Poderes com piso de pedra portuguesa ainda incompleto, e servindo a varanda do Supremo Tribunal Federal  como  altar, ocorreu a missa campal. Segundo o programa oficial, a cruz então utilizada era a mesma diante da qual foi celebrada a “primeira missa no Brasil”(sic). No exato momento em que o cardeal elevou o Santíssimo, a banda do corpo de fuzileiros navais executou o hino nacional e Brasília foi toda iluminada por grandes refletores. Seguiu-se a locução radiofônica, diretamente do Vaticano, de uma saudação do papa João XXIII.
             Já na alvorada do dia 21, JK recebeu os embaixadores para, a seguir, em sessões simultâneas, ocorrerem às cerimônias de instalação dos três poderes da República. No Palácio do Planalto, fraque e cartola; no Palácio do Congresso, traje de passeio escuro; e no Palácio da Justiça, toga e capelo. Na Praça fronteira, permaneceram os candangos – os construtores de Brasília – com suas roupas simples, vestes de domingo ou mesmo macacões de obra. Aos edifícios “pioneiros” do Palácio da Alvorada, Brasília Palace Hotel e Igreja Nossa Senhora de Fátima – de 1958 – juntou-se um significativo, e representativo, número de outras obras igualmente projetadas por Oscar Niemeyer. As formalidades protocolares afastaram o arquiteto das solenidades oficiais, que preferiu participar das festas populares. Lucio Costa, o urbanista da Capital, permaneceu no Rio de Janeiro. No local da futura catedral, o núncio apostólico do Brasil instalou a arquidiocese de Brasília e deu posse ao seu primeiro arcebispo. Todos voltaram a se encontrar na Praça quando, após a oração do poeta Guilherme de Almeida, foi inaugurado o monumento comemorativo à efeméride, o Museu da Cidade. No eixo rodoviário, ocorreu o desfile militar e a grande parada dos operários da Novacap. À noite, o casal presidencial ofereceu recepção de gala nos salões do Planalto para convidados de uniforme ou de casaca, mas, desta vez, exibindo as respectivas condecorações. Para a festa, improvisados buffets, bares e chapelarias foram adaptados no Palácio.
             Com gosto de ressaca, na manhã do dia 22, foram instalados os tribunais Superior Eleitoral e Federal de Recursos no edifício do Ministério da Justiça; enquanto a primeira dama, Sarah Kubitschek, inaugurava o Centro de Recuperação. Após a cerimônia de despedida do cardeal, as autoridades prestigiaram a abertura do Cine Brasília e, já ao anoitecer, assistiram ao concerto-sinfônico-coral regido pelo maestro Eleazar de Carvalho.
             Por fim, o quarto dia de festas foi dedicado a atividades menos protocolares, como o Grande Prêmio Automobilístico de Brasília (na Esplanada dos Ministérios), o Campeonato Brasileiro de barcos (na enseada fronteira ao Palace Hotel, no Lago Paranoá), e o espetáculo “Festival Brasília”, de autoria do escritor Josué Montello, com música de Heitor Villa-Lobos e Hekel Tavares.
                 Mesmo assim, muito ainda faltava para consolidar a Capital.
A foto (reproduzida do Arquivo Histórico do DF)  mostra os acampamentos dos trabalhadores que construíram Brasília



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