quinta-feira, 21 de abril de 2011

Fim de jogo (por Andrey Schlee)

          Nos últimos seis anos estive Diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília. Algo muito marcante e que, por se tratar de um curso na Capital, me obrigou a manter contato com um mundo completamente estranho, cheio de códigos próprios e de um ritmo particular – marcado pelas datas oficiais de cada país e das cerimônias de chegada ou de partida dos representantes do corpo diplomático.
          Um mundo, na maioria das vezes agradável, mas muito esnobe e até preconceituoso, mascarado por rígidos cerimoniais e por regras de etiqueta. Um mundo onde cada um tem o seu lugar previamente e hierarquicamente definido. Um mundo de fantasia, com residências quase sempre belas, jantares quase sempre saborosos, festas quase sempre divertidas.
           Da ilusão, ficaram boas estórias! Como saborear, nos jardins da Embaixada da França, e em petit-comité, um intragável coq au vin (no caso, o “pato” era tão velho e duro que, mesmo preparada no tradicional Borgonha, o embaixador solicitou retirar a comida toda... ). Ou ser recebido para jantar formal, portanto sentado, na residência oficial da Finlândia, por uma embaixatriz saudosa de sua terra natal e completamente bêbada! Ou ouvir de um embaixador da Comunidade Européia exclamar, frente ao atraso de um colega da Nicarágua: – Tinha que ser latino! Divertido foi comemorar a data oficial da Itália – nos magníficos jardins da chancelaria – comendo pasta chî sardi, ou seja, a terrível e econômica “massa com sardinha”! (a embaixatriz era siciliana...). E, um tanto surrealista, foi ser convidado para comemorar o aniversário da Rainha britânica, com direito a God save the Queen... Long to reign over us (tradução: Deus salve a Rainha...que ela “tenha um longo reinado sobre nós”).
         Mas, para não ser injusto, tenho que também lembrar do estimulante convívio com as embaixadoras da Romênia e do México, por quem sempre fomos bem recebidos e onde sempre se comeu esplendidamente. Curiosamente, as duas não eram diplomatas de carreira...
         Fica uma saudade do mole poblano e deixo o meu cartão de visita. R.S.V.P.

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