quarta-feira, 20 de abril de 2011

Sessão da Tarde (pela manhã)

                Hoje eu acordei meio gripado, com dor de cabeça e garganta arranhando. Véspera de feriadão, serviço em dia, resolvi ficar em casa. A Fernanda e a Flor sairam cedo, para seus colégios. Coloquei Mississipi em Chamas, de Alan Parker, para ver.
            No filme, de 1988, Gene Hackman e Willian Dafoe interpretam uma dupla de agentes do FBI que são mandados a uma pequena cidade do Mississipi em 1964, para investigarem o desaparecimento de três jovens ativistas dos Direitos Civis naquela localidade marcadamente segregacionista.
            Seguindo velho clichê de filmes policiais norteamericanos, o primeiro é o velho agente da lei, experiente e já meio desiludido, enquanto o segundo representa os novos padrões, segue estritamente as normas, é ético e "quer mudar o mundo".
            Evidentemente, sob o comando do policial inexperiente as investigações não chegam a resultado algum, em que pese os meios materiais que lhe são disponibilizados pelo "Bureau". É necessário que o calejado policial lance mão das suas manhas para que se comprove o que já era sabido de antemão por todos: os ativistas tinham sido mortos por membros da Klu Klux Klan (vale dizer, pelos homens brancos da cidade, incluindo o xerife e seus ajudantes).
            A primeira vez que vi esse filme foi no início de 1989, na Cinelândia, no Rio de Janeiro. Eu e o Andrey tínhamos ido a Recife para jogar botão e, no retorno, passamos pelo Rio para ver o Grande Prêmio Brasil de F1 (última vez que se realizou em Jacarepaguá). Naquela época os filmes que concorreriam ao Oscar (e Missisipi em Chamas concorreu a sete) ainda eram apresentados antes no centro do país e, só depois, na "periferia". Naquela época ainda valia a pena ver os filmes que concorreria ao Oscar!
            No desenrolar do filme há uma cena emblemática em que uma dúzia de racistas da KKK, metidos em seus assustadores capuzes pontudos e brancos, aterrorizam negros que saiam de um culto religioso em uma igreja. A socos e pauladas, agridem e ferem aqueles que não conseguem deles fugir. Apavorado, um adolescente negro opta por ajoelhar-se à porta da igreja, rezando enquanto a selvageria campeia à sua volta. Nesse momento se aproxima dele um dos mascarados que, contrariando a impressão inicial do expectador, de que se comoverá com atitude passiva do negrinho, desfere-lhe um pontapé na cara.
            Nunca me esqueci dessa cena porque, no exato momento em que foi projetada no cinema lá do Rio, um sujeito (nem sei se era branco ou negro) pulou da cadeira e, como se ele tivesse levado a patada, injuriado, berrou: "FIADAPUTA!"
           




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