Capa da nova edição do livro Uma Terra Só (foto de Marcelo Freda Soares) |
Na gelada tarde de sábado Jaguarão passou a ter a Rua Uma Terra Só. Para quem conhece a Cidade Heróica, a rua recém batizada com o título do livro do mesmo nome (com o qual meu pai venceu a IIª Bienal Nestlé de Literatura, em 1984), fica entre o paredão lateral do belíssimo Mercado Central e os fundos do medonho prédio do Centro de Saúde. Pavimentada com paralelepípedos gastos, vai da esquina do mercado até quase a beira do cais, às margens de cá do Rio Jaguarão. Curtinha, a rua não tem qualquer porta que para ela se abra (ou se feche!).
Pouco antes do "decerramento da placa", na Casa de Cultura, um momento de extrema emoção. O pai, nós (a família), os amigos (velhos e fieis, novos e inesperados), leitores e autoridades locais, fomos surpreendidos pela leitura de uma carta que o Prefeito Claudio Martins, pouco antes, havia recebido. Era do Diretor do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Assim:
"Caro amigo,
A data de hoje reveste-se de especial significado para todos nós. Jaguarenses ou não, familiares do homenageado ou não, estamos sinceramente agradecidos por tudo. No meu caso particular, convivo com Jaguarão e com Schlee há 48 anos. Cresci guri nas casas dessa cidade, despertei para o patrimônio nas ruas de Jaguarão. Em Pelotas, me formei e acompanhei e feitura dos livros de meu pai. Saiba que eles não são escritos, mas exaustivamente pensados, detalhadamente construídos, cuidadosamente desenhados e, finalmente, registrados.
Contos que nascem de um universo literário particular, com limites culturais e espaciais definidos, e que abrange os homens que viveram ou que vivem por aqui. Deste lado, ou do lado de lá da ponte.
Personagens de histórias reais, travestidas da mais pura e humana ficção. Histórias que, por isso mesmo, são universais. De Jaguarão para o resto do mundo! A Jaguarão que sempre viveu em minha memória e no meu coração, agora é patrimônio de todo o povo brasileiro. Representa, portanto, parte do legado que o Brasil de hoje deixara para as gerações futuras. E é nesta mesma cidade histórica que, a partir de hoje, existirá uma rua denominada “Uma Terra Só”. Na nossa Jaguarão e na de meu pai. Preservada como Aldyr Garcia Schlee sempre desejou. Não deixa de ser significativo tratar-se de uma simples via, que nasce em Jaguarão, que mergulha no rio, que emerge em Rio Branco e que tem como horizonte o Uruguai. Sendo ela mesma infinita e uma bela peça de ficção! Uma Terra só e uma rua, curiosamente, sem portas! Como que sugerindo um mundo sem fronteiras e sem propriedades.
A data de hoje reveste-se de especial significado para todos nós. Jaguarenses ou não, familiares do homenageado ou não, estamos sinceramente agradecidos por tudo. No meu caso particular, convivo com Jaguarão e com Schlee há 48 anos. Cresci guri nas casas dessa cidade, despertei para o patrimônio nas ruas de Jaguarão. Em Pelotas, me formei e acompanhei e feitura dos livros de meu pai. Saiba que eles não são escritos, mas exaustivamente pensados, detalhadamente construídos, cuidadosamente desenhados e, finalmente, registrados.
Contos que nascem de um universo literário particular, com limites culturais e espaciais definidos, e que abrange os homens que viveram ou que vivem por aqui. Deste lado, ou do lado de lá da ponte.
Personagens de histórias reais, travestidas da mais pura e humana ficção. Histórias que, por isso mesmo, são universais. De Jaguarão para o resto do mundo! A Jaguarão que sempre viveu em minha memória e no meu coração, agora é patrimônio de todo o povo brasileiro. Representa, portanto, parte do legado que o Brasil de hoje deixara para as gerações futuras. E é nesta mesma cidade histórica que, a partir de hoje, existirá uma rua denominada “Uma Terra Só”. Na nossa Jaguarão e na de meu pai. Preservada como Aldyr Garcia Schlee sempre desejou. Não deixa de ser significativo tratar-se de uma simples via, que nasce em Jaguarão, que mergulha no rio, que emerge em Rio Branco e que tem como horizonte o Uruguai. Sendo ela mesma infinita e uma bela peça de ficção! Uma Terra só e uma rua, curiosamente, sem portas! Como que sugerindo um mundo sem fronteiras e sem propriedades.
Também como Aldyr Garcia Schlee sempre sonhou e lutou.
Caro Prefeito, parabéns pelo conjunto de iniciativas! (dê um forte abraço em meu pai!)
Andrey Rosenthal Schlee
Andrey Rosenthal Schlee
Brasília, 20 de agosto de 2011."
Como disse o Neneco, meu cunhado (também com a cara vermelha e inchada): "me caguei de chorar!"
E me caguei de chorar não só pelo impacto da carta do meu irmão, mas por me lembrar - naquele exato momento - ali do lado do pai, de quando, não faz muitos anos, uma Jaguarão muito diferente sequer tomou conhecimento de uma "noite da autógrafos" a que meia dúzia de conterrâneos-gatos-pingados se fizeram presentes. Na época, sinal dos tempos, o boicotado evento aconteceu (ou não aconteceu!) num dos "clubes sociais" da cidade (que, é claro, não estava - ainda - interessada em manter uma "casa de cultura").
E me caguei de chorar não só pelo impacto da carta do meu irmão, mas por me lembrar - naquele exato momento - ali do lado do pai, de quando, não faz muitos anos, uma Jaguarão muito diferente sequer tomou conhecimento de uma "noite da autógrafos" a que meia dúzia de conterrâneos-gatos-pingados se fizeram presentes. Na época, sinal dos tempos, o boicotado evento aconteceu (ou não aconteceu!) num dos "clubes sociais" da cidade (que, é claro, não estava - ainda - interessada em manter uma "casa de cultura").
O convite para a inauguração e a tarde de autógrafos |
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