quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Boletins

       Depois de muito tempo o Andrey me mandou de Brasília o seguinte texto:
       "Mexendo em velhos documentos, encontrei dois boletins escolares. Santa Margarida, Pelotas. Sexta série, 1975 e Oitava série, 1977. No primeiro, ao longo de quatro avaliações, só recebi três Ótimos (Música, Artes Plásticas e Orfeão) e um Insuficiente (Moral e Cívica). Mesmo assim, como observação, foi registrado: “solicitamos entrevista com os pais ou responsáveis pelo aluno” e logo grampearam um "Parecer Descritivo" com a seguinte idiotice: “...O aluno é insuficiente em moral e cívica nos hábitos e atitudes em relação aos trabalhos propostos. Possui inclinação para as atividades artísticas, nas quais demonstra muito interesse”. Já no segundo Boletim, recebi Muito Bom em O.S.P.B e um simples Suficiente em Educação Plástica... Tudo resolvido! Meus pais não foram mais chamados. O Colégio deu um jeito de acabar (ou abafar) com a minha “inclinação”!!! Domine dirige nos."
Meu boletim de 1976
2ª Série A Colegial
       Ah, o velho Santa Margarida! Quantas saudades! Eu e meus irmãos sempre estudamos lá. Minha mulher fez o segundo grau no Margarida, onde foi colega de aula da minha irmã. Ambas iniciaram a vida docente por lá (onde também o pai foi professor por vários anos).
       Por coincidência, depois de ter recebido o texto do Andrey, fui brindado pela minha mãe com dois boletins meus que estavam guardados por ela não-sei-onde. São de 1975 e 1976, respectivamente dos meus primeiro e segundo anos do segundo grau. A mãe nem queria que minha filha visse as notas que estão neles registradas para sempre. Segundo ela, "poderiam servir de mau exemplo!".
       Certa vez, no meio do ano, recebi um "insuficiente" em determinada matéria. Por isso tive de ir, com a mãe, conversar com o diretor da escola, um reverendo da Igreja Episcopal. Baita vexame! Hora marcada, ficamos esperando na antessala da direção (por um tempo que custou a eternidade para passar). Depois, o diretor - que tinha sido meu professor de Psicologia (é!, PSICOLOGIA!) disse para a mãe (que estava furiosa comigo), referindo-se a mim: "Ele não é dos piores". Que horror: se eu estava lá era porque não era "dos melhores", claro. Agora, não ser "dos piores" era ser o quê? O cocô do cavalo do bandido! Ao menos os "piores", "les enfants terribles", tinham seu status entre os colegas. Já não ser nem um, nem outro, era ser apenas mais ou menos, medíocre. Ninguém merece essa pecha!
       Bah, nunca esqueci disso!
       Ah: o diretor esse, o reverendo, logo em seguida foi substituído no cargo. Dizem que por ter malversado o dinheiro do colégio. E ele não era dos piores...

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