quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Marianne Faithfull em Porto Alegre

Ela veio.
Eu não fui.
Que pena!
       O público que encheu - mas não lotou - o Teatro do Bourbon Country na sexta-feira e no sábado recebeu o prometido pelo título do espetáculo de Marianne Faithfull: " uma noite íntima" com essa lenda da música pop internacional. Primeiro, entrou em cena o guitarrista Doug Pettibone - competente músico americano que já acompanhou nomes como Mark Knopfler, Joan Baez, Tracy Chapman e Jewel. Depois, foi a vez da dama, muito digna vestindo um terno preto e camisa branca, receber os aplausos. O concerto foi aberto pela canção que dá título ao mais recente disco de Marianne, Horses and High Heels (2011). Why Did We Have to Part, também desse álbum gravado em New Orleans,  foi o tema seguinte.
       - Estou feliz por estar nesta noite em Porto Alegre - saudou a simpática Marianne.
       Espiando as letras em folhas na estante, tossindo entre um trecho e outro, a cantora de 64 anos apresentou mais uma música de seu 23º disco: That's How Every Empire Falls.
       - Essa é uma canção antiamericana.  O império americano está no fim. Eles estragram tudo, e a gente não tem nada a ver com isso. -  justificou a dona da noite.
       O tom folk instaurou-se definitivamente com The Crane Wife 3, música original da banda The Decemberists que Marianne gravou em seu trabalho anterior, Easy Gome, Easy Go (2009).
       - Não se preocupem, eu vou cantar as músicas que vocês estão esperando - desculpou-se desnecessariamente  Marianne antes de cantar Love Song, também de seu novo álbum.
       Ao final da bela canção, anteriormente gravada por Elton John, beijou Pettibone e anunciou  o primeiro sucesso do repertório: Sister Morphine.
       - Esta música foi escrita com um cara chamado Mick Jagger - informou Marianne antes da interpretação visceral da música registrada pelos Stones  no disco Sticky Fingers (1971).
       Apesar da tosse intermitente, a vocalista acendeu um cigarro antes de interpretar a balada country Sing me Back Home, e ainda brincou:
       - Eu faço isso para atormentar vocês porque eu posso. Ser Marianne Faithfull tem suas vantagens.
       Broken English mereceu também uma versão rascante da intérprete, acompanhada pelo violão cheio de efeitos de Pettibone - que nas primeiras músicas chegou a se sobrepor à voz da cantora. O retorno aos hits antigos chegou então ao começo de tudo com As Tears Go By, de 1964 ("A primeira música que cantei em pública"). Working Class Hero, de John Lennon, rasgou o ar como navalha na voz áspera de Marianne, que em seguida atacou com Ballad of Lucy Jordan - infelizmente  prejudicada na sexta por um problema técnico que desligou na metade o som do violão. A melancólica Strange Weather, de Tom Waits, fechou o show de pouco mais de uma hora. No bis, Marianne cantou a capella Love Is Teasin', linda canção irlandesa registrada por ela  em um disco da banda The Chieftains.
        A cantora e pianista Cida Moreira, que apresenta hoje no Theatro São Pedro o show A Dama Indigna, também dentro da programação do 18º Porto Alegre Em Cena, resumiu assim o espírito dessa inesquecível noitada:
       - Ela não enfeita, ela é crua. A voz da  Marianne é maravilhosa! O que eu gosto é o estrago que a vida fez nela. Marianne sobreviveu a ela mesma.

*Texto de Roger Lerina, publicado na ZH de 21 de setembro.

5 comentários:

  1. Aldyr, para teres uma ideia a autobiografia dessa dama dos outsiders se chama " A noite em que o Rolling Stones devastaram minha vagina", nada será como antes depois dessa merda do "politicamente correto" ( acho até que poderia se chamar politicamente capacho)além de não ter humor inaugurou a Era do Cinismo absoluto e deslavado.

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  2. Sr.Aldyr, podia melhor explicar sua ligação com o doutor Golbery, antes que eu perca o pior que há em mim que sempre será o melhor, quando Vossa Senhoria irá até lá em casa ?
    Até agora só eu vim aqui.
    Atenciosamente, subscrevo-me ( o que mais gostei foi do cara plantando bananeira, acho até que era comunista )
    aalfonsin.blogspot.com

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  3. Impossível não lembrar do filme Irina Palm, de 2007, do diretor Sam Garbarski(do qual não vi nehuma outra "fita") com a fantástica interpretação da Marianne Faithfull.

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  4. Bah, Vaz, eu não vi esse filme! Vou procurar por aí. Gosto muito de "Montenegro", cuja música de abertura é "Ballad of Lucy Jordan".

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  5. Cara! Que pena termos perdido o Show da Marienne! É fantástica! Tem uma voz incrível! E como atriz é excelente! É preciso assistir Irina Palm onde ela faz uma avó que prostitui as mãos para salvar a vida do neto. Sua interpretação é contida, tranquila, sem exageros. Vale a pena ver!

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