terça-feira, 11 de outubro de 2011

Menos iPod, mais miojo (por Jorge Barcellos)*

       Sou pré-histórico. Não tenho iPhone, iPad e nem iPod. Meu celular tem inúmeras funções graças a Steve Jobs, mas só uso uma ou duas. E quanto a tela touch screen, alguém pode me explicar porque os nomes da agenda deslizam tão rápido que mal consigo selecioná-los?
       Desculpe, estou ficando velho e as rabugices marxistas vem à tona. Não entendo porque tanta idolatria com os feitos de Jobs. Quem disse que suas invenções fizeram avançar a humanidade? Seus aparelhos são o tormento de inúmeros professores: os alunos perdem a concentração da sala de aula porque estão ouvindo seu iPod; você não consegue falar com uma pessoa porque ela está no seu iPhone - “só um instante, só um instante!” - e não abro mão da experiência táctil que um livro possibilita – vade retro iPad!       A celebração dos feitos de Jobs oculta o fato de que todo avanço tecnológico cobra um preço. A invenção do avião foi também a do desastre aéreo; a do navio, o naufrágio e a do trem, o descarrilhamento. Toda a invenção cria o seu acidente, diz Paul Virilio. O avanço digital também tem o seu: torna nossa sociedade mais individualista e compulsiva. Pessoas caminham como zumbis nos parques alheios a beleza natural e a caminhada a dois passa a ser uma caminhada individual; ficam obcecados com a telinha do computador e não desviam o olhar sequer quando você lhes dirige a palavra e a leitura de textos em um iPad só faz as pessoas terem menos paciência para lerem textos longos. Como repetem os adoradores das criações de Jobs, tudo ficou mais fácil com ele, é verdade – outra forma de dizer que seu sucesso se deve ao fato de reconhecer que somos todos estúpidos. “É fácil de usar? Então estou dentro”.A questão é que as criações de Jobs não são instrumentos passivos de informação “Eles fornecem o conteúdo de nossos pensamentos, mas também modelam o processo de pensamento”, diz Nicholas Carr. Isto que dizer que devemos parar de usá-los? É claro que não! só que devemos ser mais críticos quanto ao condicionamento que provoca ao nos possibilitar receber informação de forma rápida e superficial.       Confesso que fiquei mais triste quando morreu em 2007 Momofuku Ando. O inventor do macarrão instantâneo e fundador da Nissin Foods Products morreu aos 96 anos de ataque cardíaco. Ando teve a idéia de criar o macarrão instantâneo depois da 2ª Guerra Mundial quando via as pessoas passando inúmeras horas na fila para comprar alimentos no mercado negro devido ao racionamento. Qual foi a invenção mais importante para a humanidade, a do miojo – nenhuma unanimidade, dirão os nutricionistas – que mata a fome e socializa ou a do iPod que aliena e individualiza?       Alto lá.! É claro que Jobs tem imenso valor, mas não por suas invenções, mercadorias que o Capitalismo adora, mas pela simplicidade das idéias que expressou no famoso discurso de Stanford ”você tem de encontrar o que você ama”. Sorte de Jobs que encontrou algo que também o deixou rico.

*Artigo publicado na Zero Hora de segunda-feira.



       Confesso a minha ignorância. Não sabia quem era o tal de Steve Jobs, que morreu semana passada. Por isso, nem mesmo os rostinhos chorosos do Bonner e da mulherzinha dele, no Jornal Nacional, me comoveram. Custa-me admitir que o cara fosse o "Madre Tereza" da tecnologia, o "gente boa" da era digital. Não estou a fim de ouvir o tal "discurso de Stanford", nem de ler os livros que, sobre o legado desse "Rei Midas touch screen", pululurão em breve. Somente aos filmes da Pixar (da qual foi um dos criadores) me rendo. Bota o Toy Story aí...

Um comentário:

  1. JOSB POR JOBS foi o Steve o José Octavio da Silva Badia(JOSB) continua, não confundam!
    Abração

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