Ao falarmos em Kerb nos recordamos imediatamente às festividades germânicas do sul do Brasil. É bastante comum no interior do Rio Grande do Sul ouvirmos a expressão "Baile de Kerb", mas muita gente não sabe o porque da festividade. Para entendermos um pouco sobre este festejo, vamos observar o que significa a palavra Kerb.
"Die Kerb" ("Die" é um artigo que teria valor de "A") é a designação regional dos estados alemães do Hessen e da Renânia Palatinado para a vocábulo Kirchweih, que quer dizer "Inauguração da Igreja". O livro "KLEINES LEXICON DER BRÄUCHE FESTE UND FEIERTAGE", traz a palavra Kirmes como sinônimo de Kirchweih.
Com base no mesmo livro, Kirmes tem origem na palavra Kirmesse e esta, por sua vez, de Kirchmesse. Se fossemos fazer uma tradução literal, Kirchmesse quer dizer "Missa da Igreja". A Festa da Kirmes é a Kirmesfest, ou em uma tradução um pouco forçada seria a "Festa da Missa da Igreja". A designação mais próxima do português é sonoramente parecida com Kirchmesse, que é a "Quermesse". Também é importante lembrar que esta mesma festa acabou recebendo outras denominações regionais alemãs, como "Kelb", "Kilbe", "Kirbe" (estes no dialeto suábio), "Kirwa", "Kirta" (na Baviera), entre outros.
Esta "Quermesse Alemã" tem suas características próprios. É comemorada na data da inauguração solene do templo. Em algumas localidades esta festa já era feita anualmente desde o século IX. O Kerb era uma comemoração familiar e da aldeia. Estas se preparavam com semanas de antecedência, limpando suas casas e fazendo bolos. Na data, todos iam para a Kirmes utilizando trajes festivos.
Hoje na Europa a festa deixou um pouco de sua ligação com a Igreja e tem mais um caráter de Festa Popular. Esta tem a possibilidade de ter feiras com coloridas estandes, bebidas diversas e assuntos variados.
No Brasil, esta confraternização veio com os imigrantes alemães. Esta designação de Kerb, em comparação com os demais sinônimos, deve ter se firmado devido a grande quantidade de imigrantes do Hunsrück, que vieram do atual estado da Renânia Palatinado.
Nos antigos costumes dos imigrantes e descendentes, o Kerb era realizada realmente com base na data da inauguração da igreja local. Esta comemoração iniciava no domingo e encerrava na terça-feira, durando 3 dias. As famílias enfeitavam as casas e utilizavam roupas festivas. Nestes dias ocorriam bailes locais e visitas às casas. Com muita hospitalidade, a comunidade e familiares eram recebidos nos lares com de alimentos e bebidas.
Em algumas regiões do RS é identificado o costume de se pregar com alfinetes fitas coloridas na lapela da roupa dos rapazes. Diz a tradição que o rapaz deveria receber uma fita por noite de Kerb, sendo um ponto positivo estar na terça-feira à noite com as três fitas na lapela.
Na região sul do Brasil o Kerb já se incorporou como atividade característica das comunidades germânicas. Mesmo havendo a possibilidade de traduzir para "Quermesse", esta festa germânica muito se distingue da quermesse de origem lusitana e hispânica, muito comum no território latino americano. Esta palavra alemã já tem espaço próprio no vocabulário sulino.
Mas assim como na Alemanha, o Kerb brasileiro já recebeu variações, ou por vezes se aplicou no Brasil as variações alemãs. Muitos utilizam como base a data da colocação da pedra fundamental da igreja. Outros a data do Santo padroeiro. Outra variação é a utilização da data de inauguração de alguma coisa ou emancipação da cidade. Além da questão do calendário, muitos condensaram as comemorações de 3 dias em 1, ou prolongaram durante semanas como festa oficial do municipal (estilo às Oktoberfest). Para muitos o simples fato de ser uma festividade germânica (ou parecida) já é motivo de se utilizar o nome de Kerb. Cada localidade passou a ter particularidades em suas atividades.
Na internet podem ser encontradas outras explicações, sendo algumas interessantes ou bastante absurdas. Uma delas diz que esta festividade era exclusiva do RS, sem igual no resto do Brasil ou Alemanha. Outra sugestão apresenta-a como Festa da Colheita, tendo o nome surgido de "Korb", que em alemão quer dizer "cesto". Entretanto é importante que se busque o fundamento para tais justificativas, para que não se formule teorias com base somente na coincidência de vocábulos ou na pura falta de informação.
Texto de Denis Gerson Simões (com auxílio de pesquisa e tradução de Tatiani Fiegenbaum e Verônica Kühle), publicado em http://www.porta25.com/ e "garimpado" pelo Andrey, lá no Planalto Central.
Aqui em Pelotas já é tradicional, a cada novembro, o Kerb do 15 de Julho - o clube dos alemães, lá nas Três Vendas.
Houve época em que andamos indo ao tal kerb, mesmo contrariando a vontade da minha mãe. Ela, que nos anos 50 foi professora no interior, na teotônica Colônia Santa Silvana, sempre disse que nas festas, a alemoada se embebeda e acaba abrindo a bragueta e mijando, sem cerimônia, na frente do salão.
Na última vez que eu e a Fernanda fomos ao kerb, ficamos mais de uma hora no acostamento da Av. Fernando Osório (onde fica o 15), numa imensa fila, para ingressar no clube. A Fernando Osório é a avenida de entrada na cidade, uma espécie de sequência da BR-116, com um baita movimento de carros e caminhões que, naquela ocasião, passavam rentes a nós e aos outros que estavam na "bicha".
Quando já estávamos próximos do portão, estourou uma confusão, causada por uns espertinhos que pretendiam "furar" a festa. O rebuliço só foi desfeito pela intervenção dos "gentis" brigadianos montados, que botaram seus cavalos por cima do pessoal mais exaltado. E foi aí que uma pedrinha acabou entrando num dos olhos da Fernanda. E não teve jeito de sair, nem com aquele assoprão. Fomos embora, em busca de um colírio. Adeus kerb!
Nunca mais voltamos à festa do 15.
Tudo bem, lá tem muito alemão bebaço mijando na porta mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário