quarta-feira, 10 de julho de 2013

A alternativa (por Luis Fernando Verissimo)

Iotti
Envelhecer é chato, mas consolemo-nos: a alternativa é pior. Ninguém que eu conheça morreu e voltou para contar como é estar morto, mas o consenso geral é que existir é muito melhor do que não existir. Há dúvidas, claro.

Muitos acreditam que com a morte se vai desta vida para outra melhor, inclusive mais barata, além de eterna. Só descobriremos quando chegarmos lá. Enquanto isto vamos envelhecendo com a dignidade possível, sem nenhuma vontade de experimentar a alternativa.

Mas há casos em que a alternativa para as coisas como estão é conhecida. Já passamos pela alternativa e sabemos muito bem como ela é. Por exemplo: a alternativa de um país sem políticos, ou com políticos cerceados por um poder mais alto e armado.

Tivemos vinte anos desta alternativa e quem tem saudade dela precisa ser constantemente lembrado de como foi. Não havia corrupção? Havia, sim, não havia era investigação para valer. Havia prepotência, havia censura à imprensa, havia a Presidência passando de general para general sem consulta popular, repressão criminosa à divergência, uma política econômica subserviente e um “milagre” econômico enganador.

Quem viveu naquele tempo lembra que as ordens do dia nos quartéis eram lidas e divulgadas como éditos papais para orientar os fiéis sobre o “pensamento militar”, que decidia nossas vidas.

Ao contrario da morte, de uma ditadura se volta, preferencialmente com uma lição aprendida. E, se para garantir que a alternativa não se repita, é preciso cuidar para não desmoralizar demais a política e os políticos, que seja.

Melhor uma democracia imperfeita do que uma ordem falsa, mas incontestável. Da próxima vez que desesperar dos nossos políticos, portanto, e que alguma notícia de Brasília lhe enojar, ou você concluir que o país estaria melhor sem esses dirigentes e representantes que só representam seus interesses, e seus bolsos, respire fundo e pense na alternativa.

Sequer pensar que a alternativa seria preferível — como tem gente pensando — equivale a um suicídio cívico. Para mudar isso aí, prefira a vida — e o voto.

*Crônica publicada na ZH de 1º de julho

Em um dia os jornais do Brasil inteiro publicaram o resultado de uma pesquisa que indicava o nível, altíssimo, de satisfação da população com o governo da presidente Dilma. A mesma pesquisa informava que, em situações diversas, com candidatos de oposição diferentes, Dilma seria reeleita no 1º turno. Mais que isso, apontava que, na hipótese de Dilma não concorrer à reeleição, Lula seria levado pelo voto, sem necessidade de 2º turno, novamente à presidência.

Pronto! Os descontentes "com tudo isso que está aí" foram às ruas. Sem lideranças explícitas (mas superimplícitas), sem bandeiras, sem partidos...

Golpistas de todos os tipos, saudosos da ditadura, aproveitam os ingênuos/babacas "redessocialistas" para lançar "propostas" do tipo "pelo fim da Câmara e do Senado". Aí, na hora de votar, optam pelo candidato bonitinho...

ET: o Pastor Malafaia bota mais gente na rua que todos os "V de Vingança" juntos. Shame!

2 comentários:

  1. Uma pesquisa Ibope/Instituto...(um nome de mulher), publicada no O Sul de hoje, afirma que 80% dos brasileiros querem mais mulheres no poder. Tá, mas no dia da eleição eles votam em massa na homarada? Não entendi o enredo desse samba, amor...

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  2. Aldyr, posso ser ingênuo, mas o que vi foi que os manifestantes não permitiram que grupos ligados a partidos políticos se aproveitassem das manifestações, não me pareceu que preguem o fim dos partidos !
    O foco principal me pareceu a luta pela diminuição da corrupção e a melhoria dos serviços públicos !
    Em tempo, eu que sempre defendi o voto em partidos, contra a opinião de meus pais que entendiam que devia se votar nas possíveis melhores pessoas, estou a mais de vinte anos sem saber dizer qual é meu "partido" !

    Oduvaldo Jr.

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