Chile: 11 de setembro de 1973 (por Raul Ellwanger*)
Nos anos 60 e 70, o Chile foi abrigo para os brasileiros exilados durante o regime militar do Brasil. Iniciada em 1964, a diáspora aumentou depois do Ato 5, de dezembro de 1968. Foram acolhidos com todo carinho, com ajuda pessoal e material, conforto físico e espiritual. Receberam moradia, estudo, trabalho, apoio psicológico, solidariedade política, documentação legalizada, assistência médica, acesso ao esporte e tudo o que faz da vida uma jornada normal de ser vivida. Para quem vinha de um país brutalizado, sem legalidade, sem direitos, sem garantias, foi maravilhoso. Para muitos, foi salvação. Para outros, ressurreição. Para outros, descoberta.
Muitas vidas brasileiras foram salvas pelo Chile, que era uma ilha democrática cercada de ditaduras. Muitas pessoas renasceram e se reconstruíram, nas escolas, fábricas, templos, campos e escritórios do Chile. Carreiras profissionais, técnicas, científicas e artísticas puderam resistir graças ao Chile. Muitos dos que hoje dirigem nosso país em todas as suas áreas, só o fazem porque o Chile os recebeu, protegeu e reconstruiu. Aquele Chile solidário de ontem é parte do Brasil democrático de hoje.
De figuras conhecidas, como os presidentes da UNE Luis Travassos e José Serra, o poeta Tiago de Mello, o professor Ernani Fiori, o educador Paulo Freire, a socióloga Evelin Pape, o jornalista Tom Thimoteo até estudantes e trabalhadores pouco notórios, todos e cada um encontrou apoio no país andino.
O sangue do Brasil ficou também por lá. O poeta Nilton Rosa da Silva, de Cachoeira do Sul, foi um jovem estudante que vivenciou a experiência democrática da Unidade Popular. Alegre, brincalhão, solidário, desapegado, namorador, cantor, voluntário social, este moço "brancaleone" era exemplo da alegria transformadora que iluminava o Chile e os milhares de asilados recebidos pelo governo de Salvador Allende. Engajado nos movimentos populares, em 15 de junho de 1973 foi abatido por uma bala em plena Alameda Central de Santiago, à luz do dia, durante uma manifestação de defesa da legalidade. Mais de 100 mil pessoas assistiram ao seu sepultamento, que se constituiu num ato político internacionalista histórico. Amigos, poetas e ativistas no Chile e no Brasil seguem cultuando seu nome, memória, exemplo e sacrifício, como prenda de um passado nobre e solidário e de um futuro justo e democrático.
Baita texto, antes de ler só pela ilustração já gostei, 11 de setembro é Allende para sempre.
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