terça-feira, 26 de julho de 2011

A Montanha dos Sete Abutres

      
       Somente há poucos dias vi "A Montanha dos Sete Abutres" (Ace in the Hole), em DVD comprado nos camelôs, gravado do TeleCine.
       O filme, produzido e dirigido por Billy Wilder, é de 1951. Embora seja - hoje - considerado um clásico, foi - à época - mal recebido pela crítica e fracassou comercialmente.
       Nele, Charles Tatum (interpretado por Kirk Douglas) é um jornalista decadente que, após onze seguidas demissões de  grandes jornais norteamericanos, acaba se empregando, em troca de um salário miserável, em um pequeno jornal de Albuquerque, no Novo México. Sua meta, no entanto, é retomar - o mais breve possível - seu antigo status, precisando, para isso, realizar uma reportagem importante, que chame  a  atenção da "grande imprensa".
       E a chance disso se tornar realidade aparece para ele quando, a caminho da cobertura de uma caça a cascavéis em pleno deserto, depara-se, por acaso, com um fato que, na sua concepção, "bem trabalhado", pode render notícia, venda de jornais. Um sujeito chamado Leo Minosa (Richard Benedict) ficara preso, meio soterrado, em uma antiga ruína, um túnel que abrigava velho cemitério indígena, na Montanha dos Sete Abutres. Sem um mínimo de escrúpulos, com o intuito de gerar o máximo de comoção, o jornalista acaba convencendo o venal xerife da localidade (de olho na própria reeleição) a manter o acidentado na caverna por uns dias (tempo que levará para que de lá seja retirado a partir de um túnel a ser perfurado pela parte superior da montanha), em vez de providenciar o socorro a partir do escoramento das paredes do túnel (forma mais simples e tecnicamente adequada para o caso). Então, com exceção do infeliz Leo, todos na volta começam a tirar proveito da situação, incluindo a mulher dele, Lorraine (Jan Sterling), que já está cansada do casamento, de viver naquele lugar isolado.
       A partir da publicação das matérias sensacionalistas de Tatum no jornaleco de Albuquerque, o caso ganha grande repercussão nacional, fazendo com que toda a imprensa americana volte seus olhos para o drama do soterrado. Assim, centenas de pessoas acorrem às proximidades da caverna. Arma-se um parque de diversões nas redondezas. O paradouro dos Minosa permanece cheio dia e noite, vendendo como nunca. Consequentemente, as propostas a Tatum vêm de todos os grandes jornais americanos. Querem a cobertura com exclusividade, querem-no de volta.
       Ninguém, no entanto, está preocupado com o Leo. Cada um, a sua maneira, quer saber do seu lado, seja o jornalista picareta, sejam os chefões dos jornais que visam o incremento das suas vendas, seja a mulher interessada em recomeçar sua vida com alguma grana no bolso, sejam as famílias que chegam em trêilers para acampar e consumir os produtos que as circunstâncias oferecem.
       O final do filme, para Leo Minosa é diferente do final do episódio dos 33 mineiros da mina chilena, resgatados no ano passado. Leo morre. Não suporta o tempo de espera pelo socorro empreendido pelo método mais difícil, mais demorado, espichador do fato. Os mineiros acabaram, todos os 33, sãos e salvos pelas providências adotadas pelo governo do Chile (que, sem dúvida, obteve dividendos políticos com o acontecimento). Todavia, atualmente - passado o salvamento dos mineiros - o presidente Piñeda vem enfrentando séria crise, alcançando índices baixíssimos de popularidade. Coincidência ou não, poderá ele ter, politicamente, o mesmo fim que o jornalista Tatum teve na película de Billy Wilder.              

2 comentários:

  1. Legal! Dá vontade de ver!Tem no Camelô?!

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  2. Tem. O meu é lá da frente da Receita Federal. Da banca que vende "três clássicos por 10 reais". Ah, e é com garantia! Não rodou é só trocar.

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