sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O significado da vitória de Obama (por Juremir Machado da Silva*)

Os americanos não brincam com coisas sérias.

Para eles, ideologia é artigo de primeira classe.

Por lá, ninguém diz asneiras do tipo “as ideologias acabaram”. Direita e esquerda são palavras corriqueiras, descritivas e incontornáveis. Os republicanos representam a direita. Os democratas, a esquerda, ainda que uma esquerda moderada.

Com americano não tem conversa fiada, enrolação e dissimulação… É ferro na boneca. Romney teve os votos de 60% dos brancos. Obama ganhou com votos de latinos, homossexuais, negros e outros grupos discriminados. Esses são os critérios de divisão da sociedade. Não tem discurso universalista fake capaz de esconder essa fratura social. É na lata. Na bucha.

No Brasil, essa divisão se repete com algumas adaptações. A direita é contra aborto, casamento gay, cotas, etc. Essas bandeiras eram do PP e do DEM, filhotes da ARENA, netos da UDN. Algumas delas passaram a ser do PSDB, que, nascido de centro-esquerdo, guinou, em certos temas, para a direita e até para extrema-direita, tornando o partido dos lacerdinhas, a UDN com gel no cabelo e muito ódio no coração, um partido que se crê à frente por se posicionar atrás do seu tempo.

Nem todo tucano, contudo, é reacionário. Cada partido tem um mote, uma maneira de se ver: o PSDB se vê como o partido da racionalidade e da modernidade. Era um gancho sensacional. Aos poucos, em busca de foco e de nicho eleitoral, tornou-se o “tea party” tropical, uma espécie de sucursal do ultraconservadorismo republicano, uma exacerbação ideológica do udenismo.

O PT se vê como o partido dos engajamentos sociais. Mas perdeu em republicanismo com o mensalão. O PMDB já não se olha no espelho. O PDT flutua sem saber para onde quer ir. O DEM é um fantasma em busca da reencarnação.

A eleição americana mostrou um embate entre o velho e o novo.

Pela primeira vez, um candidato não teve medo de perder votos conservadores e defendeu o casamento gay.

No Brasil, os marqueteiros mandam os candidatos esconderem posicionamentos polêmicos. O que pode ser novo é jogado para baixo do tapete. O diferencial é apagado, raspado, eliminado. Todo marqueteiro tem alma de conservador.

Neste blog, com pseudônimos ou não, há representantes do tea party. Todos os dias, incansavelmente, repetem os mesmos insultos, o mesmo discurso rastaquera, o mesmo besteirol ressentido e babando raiva ideológica, quase fascista, certas vezes, sempre simplista, pessoal, dicotômico, maniqueísta, um time melancólico de espíritos mesquinhos e obcecados.

Eu os projeto não os publicando para que não sejam expostos ao ridículo ou para evitar calúnias e difamações.

Vez ou outra, deixo passar algo em nome do humor.

São engraçados, virulentos, dignos de pena.

Defendem um mundo em decadência ou a decadência como mundo.

Usam uma retórica macartista, achando que sou petista, comunista ou marxista, esses rótulos do século XX, por não compartilhar seus pontos de vista anacrônicos e feios. É aquele tipo de gente que dissemina falsas notícias na internet: Forbes diz que Lula é bilionário, Dilma ficou com o cofre do Ademar para ela, essas lorotas de mentes atormentadas e tristes.

É o pessoal que odeia Cuba, não tanto pela ditadura, mas por ter tentado criar igualdade.

É aquele pessoal que quer cidadãos armados, prisões transbordando, um policial a cada 50 metros, mulheres pobres esterilizadas, jovens de classes desfavorecidas formados só em cursos técnicos, universidades para elites, ajuda estatal exclusivamente para produtores, banqueiros e ruralistas. É a turma que, apesar das nossas prisões abarrotadas, garante que há impunidade no Brasil, embora cometa todas as infrações de trânsito possíveis, faça seus contrabandos e tente sonegar um dinheirinho no imposto de renda.         

Eu os perdoo. Mas como são chatos, repetitivos, doentios, cansativos.

Que malas!

*Texto postado pelo autor em http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado

Um comentário:

  1. Bah!!! o cabeção matou a pau, não tinha lido, não sei como ele pode ser amigo do Diogo Mainardi.
    Devem falar sobre desvio na coluna dos cavalos marinhos.

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