Por que em português os dias da semana acabam em "feira"?
Boicote à mitologia romana começou no século 5 em Braga e dura até hoje.
O Sol, a Lua e os deuses da mitologia romana (que batizaram os primeiros planetas descobertos: Saturno, Júpiter, Marte, Vênus e Mercúrio) são os homenageados nos dias da semana em quase todos os idiomas ocidentais. Na língua inglesa, os agraciados são deuses nórdicos - Tyu (irmão de Thor) em Tuesday, Odin em Wednesday, Thor em Thursday e Fraye em Friday. Os portugueses, no entanto, quebraram essa tradição.
Roma chamava os dias de Solis dies (dia do Sol, domingo), Lunae dies (dia da Lua, segunda), Martis dies (dia de Marte, terça), Mercurii dies (dia de Mercúrio, quarta), Iovis dies (dia de Júpiter, quinta), Veneris dies (dia de Vênus, sexta) e Saturni dies (dia de Saturno, sábado). O imperador Constantino (272-337), cristão, mudou Solis dies para Dominica dies, o dia do Senhor. Em português, acabou virando "domingo". No século 5, Martinho de Dume, bispo de Braga (noroeste de Portugal), iniciou forte campanha para substituir os nomes pagãos dos dias por expressões da liturgia católica: feria secunda, tertia feria, quarta feria, quinta feria, sexta feria. Feria, em latim, significava "dia de festa", "dia de descanso". Mas seu sentido, por força do cristianismo, alterou-se para "dia sagrado". Assim, Portugal, depois de chamar os dias de domingo, lues, martes, mércoles, joves, vernes e sábado, passou a ser o único país do mundo a usar a forma canônica para os dias úteis, mantendo o "domingo" e criando "sábado" a partir de shabbat - o dia de repouso na tradição judaica. Martinho, que virou santo, também tentou mudar o nome dos planetas, mas isso ele não conseguiu.
Apesar do nome em português, a segunda-feira é, para a International Organization for Standardization (ISO), o primeiro dia da semana.
Este texto foi retirado da revista Aventuras na História (Abril, ed. 98), que se encontra nas bancas. A informação contida no seu último parágrafo me faz lembrar da vizinha cidade de Rio Grande, de marcante influência lusitana. Logo ali, depois do São Gonçalo - sempre ressaltava o Fernando Lessa Freitas (filho de portugueses, diga-se) - havia a tradicional "Esquina da Sorte", que ficava localizada no meio de uma quadra; a Quinta, que, na realidade, era a quarta estação da linha férrea entre Pelotas e Rio Grande; a Junção, onde os vagões dos trens eram separados; o Povo Novo, que, em verdade, é o povoado mais antigo da região...
Teu comentário esta sensacional!!! tão importante quanto a riqueza informativa do texto.
ResponderExcluirSe todos dias fossem de "feria" a vida teria sentido, estou com o bispo de Braga e não abro.
Angelo