quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Rescaldo dos 7


Tal qual agora...
 
Em 1974, quando da Copa da Alemanha, eu tinha 13 anos de idade. O Brasil era o campeão do mundo (e tinha vencido a "Mini-Copa" em 72). Portanto, eu não sabia o que era a Seleção perder jogo valendo. Quando aconteceu a nossa fatídica derrota por 2x0 para a Holanda, fui parar na cama, com febrão e tudo. Sequer me interessei em ver a final, muito menos a decisão do terceiro lugar (em que voltamos a perder, então para a Polônia do Lato e do Gadocha).
 
Dizia a imprensa da época: "é hora de repensar o futebol brasileiro!". Impunha-se, segundo se lia e ouvia, acompanhar os novos métodos de trabalho, copiar os conceitos do "futebol total" apresentados pela Holanda (que, entretanto, não ganhou aquela Copa - nem qualquer outra até hoje!). O Brasil, por sua vez, voltou a ganhar em 1994, foi vice em 1998, e ganhou novamente em 2002, seguindo nossos padrões "caóticos".

Anteontem perdemos feio, muito feio, para a Alemanha. Naturalmente eu não tive febre por causa da derrota, mas, confesso, fui para cama bem cedo (e foi custoso conseguir dormir). Cá entre nós, ainda com um pouco da resistência do guri de 13 anos que fui, será meio contra a vontade que assistirei aos jogos restantes desta linda Copa.

Consciente de que nunca haverá outra derrota tão medonha como essa dos 7, constato que, como em 74, os profetas do "eu já sabia" voltaram, agora, à tona. E têm, cada um deles, a fórmula mágica para "os novos rumos" que  tornarão nosso futebol vitorioso novamente.

A propósito, a ESPN propôs uma enquete: "quem deve ser o novo técnico do selecionado?" As opções eram Mano Menezes, Tite, Muricy ou... um estrangeiro ("qualquer um!", disse o apresentador). A Zero Hora sugeriu o Tite ("o gaúcho!") e, dentre vários cabeças de bagre, aponta, desde já, Luan, Grohe, Mario Fernandes, Sandro, Giuliano, Pato como candidatos às vagas para a Copa da Rússia. O PVC, aquele chatíssimo rei da estatística inútil, quer a contratação do Guardiola para técnico da Seleção.

Todos, sem exceção, dizem que nosso "modelo" está ultrapassado, que os europeus estão anos luz à frente. Opa! Como explicar, então, a classificação da Argentina à final, tendo ela uma estrutura administrativa semelhante à nossa. E como explicar, também, o fracasso rotundo de países do "1º Mundo", como a favorita Espanha, a gloriosa Itália e a Inglaterra, do campeonato nacional mais importante do planeta?

Ah, quanta asneira foi dita antes dos 7. E quanta asneira mais prosseguirá a ser proferida solenemente daqui por diante...
Eu, por meu turno, simplifico as coisas. Ainda que não haja justificativa para os 7 sofridos frente à Alemanha, a verdade é que nosso time é fraco. Foi o que viu em todos os jogos anteriores. Mas, em favor do técnico deve ser lembrado também que, desta vez, não há como reclamar a ausência, entre os 23 convocados, de algum jogador que tenha "feito falta". A crise é, antes de tudo, técnica.

E em 74 nós tínhamos Jairzinho, Rivelino e Ademir da Guia!

*Achei nos rascunhos do BF esse texto que escrevi durante a Copa entre as derrotas para a Alemanha e a Holanda. Não o havia publicado porque achei que tratava do óbvio ululante. Mas na época eu não tinha como prever que Felipão/Murtoza viessem a ser substituídos por Dunga/Gimar Rinaldi (!) e, muito menos, que a imprensa esportiva tupiniquim comemorasse entusiaticamente, com base nos jogos amistosos pós-Copa, o "belo trabalho de renovação" implantado pelos novos comandantes. Bah!

Um comentário:

  1. Aldyr, sou mais a seleção do Lazzaroni, depois que Marinho Chagas e Joel Camargo ( meus ídolos, que categoria!!!!) morreram quase no mesmo dia, larguei.
    Um time com Ademir da Guia e Rivelino não levaria 7, jamais, nem na ficção científica, agora Hulk, Luis Gustavo, Fernandinho, Tiago (amarelão) e Davi Luiz (rei do bago), a bola pune!! meu!!!
    O Mauro César Pereira(ESPN) é insuportável, parece possuir todas as senhas dos enigmas da humanidade, sempre brabinho e prático. Coxinha paulista, se justifica pela arrogância de ser.
    O PVC queria técnico estrangeiro, se fosse de Portugal quem seria o tradutor? lost in translation, mas hein? como diria Coalhada.

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