Em 1943, Manuel Bandeira escreveu esta poesia, publicada no livro “Lira dos Cinquent’anos”. Leiam:
Pardalzinho
O pardalzinho nasceu
O pardalzinho nasceu
Livre. Quebraram-lhe a asa.
Sacha lhe deu uma
casa,
Água, comida e carinhos.
Foram cuidados em vão:
A casa era uma
prisão,
O pardalzinho morreu.
O corpo Sacha enterrou
No jardim; a alma,
essa voou
Para o céu dos passarinhos!
Quem me apresentou para Pardalzinho foi a Fernanda (que é do ramo das Letras), depois que submeti a ela o rascunho de um texto sobre uma caturrita que preparava para publicar aqui neste meio abandonado Bipolar Flexível. Tal texto, pela influência manueliana (quanta presunção!) acabou ganhando novo formato, ficando assim:
Habeas Corpus
Era uma vez uma caturrita.
Toda verdinha; claro, voava.
Alguém a caçou e vendeu para outro,
que passou a mantê-la - com as asas cortadas - em uma gaiola.
Nos gritos da caturrita
(desesperada, cumprindo pena
pelo crime de ter nascido livre e bonita)
seu carcereiro identifica: "puta! puta! puta!".
Eu, apesar de não entender bem a língua das caturritas,
juro que ouvi mais: "me soltem, filhos da puta!"
Gosto muito dessa linguagem "soco nas tripas" de perder o fôlego, a poesia (como todas as artes) quanto mais próxima da realidade mais poesia é.
ResponderExcluir"Habeas" ficou demais, queremos mais.