quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Por que não escolhi a Caras?

Na segunda-feira passada precisei ir ao médico. Ando meio surdo do ouvido direito, o que há meses vem me atormentando. Na sala de espera havia, à disposição dos pacientes que aguardavam suas consultas, revistas Veja e Caras. Então, naquela situação de "não tem tu, vai tu mesmo", abri uma Veja  que tinha na capa a foto de um cahorrinho beagle. A reportagem principal daquela edição evidentemente se posicionava contrária à operação levada a efeito por militantes da defesa dos direitos dos animais, que resultou na invasão de um laboratório e na liberação de uma grande quantidade de cães da raça beagle que lá eram usados, como cobaias, em experiências (pseudo)científicas. Claro que o argumento usado para a condenação dos ativistas pela revista foi o "desrespeito à propriedade privada", lembrando a frase, de autoria de não-sei-quem, "eles se sacrificam por nós" (como se algum animal usado como cobaia tivesse escolha).

Depois, li, meio por cima, a "crítica" - altamente favorável - a um livro escrito por um "colunista" da própria Veja (cujo nome não me interessa lembrar). Claro, é uma tese sobre o que denominou "esquerda caviar", aludindo a apontadas contradições genéricas nos comportamento de intelectuais de esquerda, os quais pregariam práticas socialistas, porém usufruiriam as benesses oferecidas pelo mundo capitalista. Coisa de quem está, como a Veja, engajada na -designo por minha conta - "direita massaroca".
Por último, antes de ser chamado pela secretária, cai numa "matéria" de duas páginas sobre "a questão cigana na Europa". Trata-se de texto odioso, preconceituoso e xenófobo que se inicia com a pergunta (acerca dos ciganos): "você iria querê-los como seus vizinhos?".


 Fundado em supostos dados estatísticos (sem qualquer referência às fontes) o texto dá conta de um alto índice de criminalidade entre os ciganos, afirmando, como fariam os nazistas em sua época, que essa criminalidade é inerente à própria etnia cigana. Hordas de ciganos - especialmente oriundos da Romênia e da Bulgária -, de forma previamente organizada e concebida, invadiriam de tempos em tempos os "países civilizados" da Europa Ocidental com o propósito de realizar toda série de delitos, especialmente roubos e furtos.
Pasmo, tentei obter na internet uma versão dessa ignóbil matéria. Não consegui, de jeito nenhum. Achei, isso sim, uma bem fundada "carta aberta", endereçada à Veja por um certo  Ruano Berenguel, que pode ser lida no seguinte endereço: http://amskblog.blogspot.com.br/2013/10/carta-aberta-revista-veja-por-ruano.html

Está lá, no clássico "Relatório Buchenwald" (org. David A. Hackett, p.78, Record, 1998): "A identificação externa dos prisioneiros consistia em sequência de números e num triângulo colorido portado no peito esquerdo e na perna direita da calça. O vermelho indicava os políticos, ao passo que os culpados por uma segunda infração, os chamados reincidentes, usavam uma tira da mesma cor acima do vértice. O verde era para os criminosos, o roxo para as testemunhas-de-Jeová, o preto para os anti-sociais e o cor-de-rosa para os homossexuais. Por vezes o marrom era usado para os ciganos e os anti-sociais recolhidos em certas "ações". Os judeus sempre usavam um triângulo amarelo por baixo do seu trângulo vermelho, verde, preto, roxo, ou outro, formando assim uma estrela de seis pontas."
A Veja, pelo jeito, pretende, por ora, pregar novamente um triângulo marrom nas vestes dos ciganos. Depois, quem sabe, partir para os triângulos vermelhos, os amarelos, os cor-de-rosa...

2 comentários:

  1. Aldyr, Caras é " melhor" do que Veja, entre uma cartilha nazista de comportamento e as caras plastificadas do "high-society" paulistano, prefiro morrer de rir do que em uma câmara de gás.

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    1. "Prefiro morrer de rir do que em uma câmara de gás". A frase do ano!!!!!!

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