domingo, 10 de março de 2013

Hugo, o opositor (por Juremir Machado da Silva*)


Antes de Hugo Chávez, a Venezuela era um enorme poço de petróleo jorrando no quintal de uma das elites mais corruptas do mundo. A partilha do saque era feita entre a democracia-cristã e a socialdemocracia. O auge da roubalheira deu-se no último governo de Carlos Andrés Perez, considerado um grande democrata pela mídia global. A população passava fome, a desigualdade grassava, a imprensa era sempre governista e tudo estava bem. Chávez tentou chegou ao poder pelo golpe. Não deu. Alcançou o seu objetivo pelo voto. Instalou-se com o pior e o melhor: tendência autoritária, personalismo, salamaleques de ditador e, pecado mortal, disposto a mudar as coisas.
Os mais tradicionais defensores do chileno Pinochet e dos brasileiros Médici, Geisel e Figueiredo, passaram a chamar Chávez de ditador. Em 2002, com apoio dos Estados Unidos, foi desfechado um golpe contra ele. Falhou. O tiro saiu pela culatra. Chávez radicalizou seu discurso antiamericano. Em seus 14 anos de governo, transformou a Venezuela no país menos desigual da América Latina. De repente, passou a ser criticado por fazer a Venezuela viver do seu petróleo. Onde já se viu tirar o petróleo dos ricos democratas para usá-lo em políticas assistencialistas em favor dos mais pobres. Populista!
Populismo foi um conceito inventado pela direita para desqualificar políticas assistenciais. Funcionou contra Getúlio e Jango no Brasil. Era um álibi para não se tocar nos interesses dos ricos. O antipopulista diz: o importante é criar empregos. Caso não se consiga, fica tudo como está. Não cola mais. As políticas assistenciais são praticadas por países desenvolvidos. São necessárias, embora insuficientes. Chávez fez o que tinha de ser feito. A maior mentira sobre a Venezuela é da inexistência de liberdade de expressão. Chávez não foi um exemplo de aceitação tranquila de pontos de vista opostos aos seus. Mas, até o último dia, conviveu com a crítica virulenta de jornais de oposição a ele: “El Nacional”, “El Universal”, “TalCual” e da tevê “Globovision”.
Como era bela a América Latina antes de Chávez e de outros como ele: a massa passava fome, o assistencialismo era feio, como não se conseguia alavancar o crescimento econômico para todos, o certo era deixar a plebe na miséria e esperar dias melhores. A mídia brasileira não chamava isso de usar as instituições contra elas mesmas nem de desvirtuamento da democracia. Os admiradores de Pinochet e de Geisel não discursavam contra o uso do petróleo por Caldeira, Perez e outros presidentes venezuelanos para alimentar seus bacanais. A Venezuela atolada na miséria e na corrupção não nos preocupava. Era democrática. Praticava a democracia da indiferença.
A democracia corrupta e excludente pré-Chávez era elegante, discreta, bem vestida, não fazia longos discursos, não cantava boleros, não recorria a heróis do passado para se legitimar. Roubava com solenidade. De democracia, tinha apenas o voto comprado, cabresteado, induzido, obtido com ajuda das mais modernas técnicas marqueteiras. Tudo ia  bem no melhor dos mundos até que surgiu Hugo, o opositor, e não parou mais de ganhar eleições, que deixaram de ser sinônimo de democracia.
*postado pelo autor hoje, no Correio do Povo, versão eletrônica.

Um comentário:

  1. Pra arrebentar os culhões da mídia golpista, vai ganhar a eleição até depois de morto.

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