quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Por um ano sem bordões (por Céli Pinto*)

Mesmo que se repitam ano após anos, os balanços são importantes, queiramos ou não, são momentos que paramos para nos perguntar o que aconteceu com as nossas vidas, o que aconteceu com o país e com o mundo. Mas, vou me eximir dos balanços e pensar no ano que entra, em 2014. E começo dizendo que este não é o Ano da Copa, não é o ano que ficaremos envergonhados frente aos estrangeiros porque haverá filas nos aeroportos, para tomar táxi e nos restaurantes. Este é apenas um ano que, em meio a múltiplas outras coisas, acontecerá no país uma Copa do Mundo de Futebol, durante um mês, promovida por uma organização privada, a Fifa. É um evento importante, trará turistas e divisas, sobraram estádios e talvez alguma melhora no transporte urbano. Mas é só isto. Um país com mais de 200 milhões de habitantes, com uma das economias mais importantes do mundo, com programas sociais que envolvem milhões de pessoas, não pode ficar paralisado à espera da Copa, com medo de que não vão gostar de nós. O bordão “imagina na Copa” revela que ainda não perdermos o complexo de vira lata tão bem cunhado pelo grande Nelson Rodrigues.

O ano de 2014 é um ano de eleições gerais no Brasil: serão eleitos presidente da República, governadores, senadores, deputados estaduais e federais. E, por isto é um ano especial. É um ano que necessita de muita reflexão, para não repetirmos outros tipos de bordão, que só mostram nossa imaturidade política. Este não é um ano para sair para as ruas dizendo que todos os políticos são iguais e que povo unido não precisa de partidos. Este é um ano para pensarmos politicamente, maduramente: sem políticos teríamos o quê? Sem partidos teríamos o quê? Ditaduras militares, tecnocráticas, teológicas? Há para todos os gostos.

Proponho para 2014 um ano sem bordões, um ano sem slogans, sem palavras de ordem vazias. Proponho para 2014 um ano político, um ano para refletirmos, para que discutamos durante o período eleitoral os nossos avanços e nossos grandes problemas. Precisamos reagir para que não haja uma campanha eleitoral medíocre dominada por moralismo de calças curtas, temas menores e bordões repetidos automaticamente sem nenhuma reflexão. E boa Copa para todos.
 
*Professora da UFRGS, pesquisadora visitante da Universidade de Oxford, Inglaterra.
Este artigo (que eu gostaria de ter escrito - tivesse condição pessoal para tanto) foi publicado na edição de hoje de Zero Hora.

Um comentário:

  1. O que existe de mais importante esse ano no país são as eleições, sempre que houver uma eleição será uma Copa do Mundo para a continuação da liberdade, da vida, de todos nós.

    ResponderExcluir