Sustos. Eles não me faltaram neste mais de meio século de existência intensa e 32 anos de exercício da medicina. Nas diversas e radicais atividades esportivas ou na relativa inconsequência das festas da juventude e nos plantões de urgência nos ambulatórios de cidades do interior do Estado, foram muitos os momentos de apreensão e sobressaltos. Na noite do dia 17, mais sustos. Dois jogadores sofreram batidas na cabeça. Confesso que, neste momento, por força de repetidos e dramáticos incidentes e por ter conhecimento do nível de agressão ao cérebro que pode advir desse tipo de ocorrência, muito me abalam os traumatismos cranianos no futebol.
As manifestações tendem a ser momentâneas, mas, pelo fato de o choque ocorrer sem previsão e natural defesa, os danos podem ser permanentes, de natureza cognitiva ou motora. No futebol, o impacto ocorre em pleno processo de aceleração dos indivíduos envolvidos, com forças agindo em sentidos contrários, o que potencializa a violência da colisão.
A angústia vem de longe. Relembro da lesão de Zé Rios, da Desportiva do Espírito Santo, no Beira-Rio, em 1979. O capixaba sofreu uma pancada na cabeça, foi hospitalizado e acabou amparado por Valdomiro, ex-atleta do Internacional, e sua esposa. Tempos depois, o dramático acidente de trabalho com Benitez, goleiro colorado e da seleção paraguaia. Foi uma comoção no Rio Grande. Embora sobrevivendo ao TCE (traumatismo cranioencefálico), ambos jamais voltaram aos gramados.
Desde então, quantas cabeçadas. Quantas carreiras promissoras interrompidas. Não possuo estatísticas, mas estou certo de que os choques no crânio e na face têm aumentado consideravelmente nos últimos anos e com graves implicações para a vida de numerosos jovens atletas, que permanecem com sequelas para sempre.
Urgem providências enérgicas. Considero, inclusive, propor uma mudança na regra do futebol, com a proibição de disputas de bola com a cabeça. Por que não?
Defendo, pelo menos, a instituição de protetores do tipo que usa o goleiro Peter Cech, do Chelsea FC da Inglaterra. Ele, após sofrer um TCE, voltou à profissão, mas usando um capacete especial, que seguramente diminui sobremaneira os impactos no cérebro e minimiza as consequências neurológicas dos choques.
Como em toda atividade laboral de risco, o futebol deveria ter, por lei, a obrigatoriedade da utilização desse EPI (equipamento de proteção individual), além de outros, como caneleiras, já em uso, e protetores bucais. Pode parecer estranho, incômodo, mas é indispensável, estou convicto. Outros esportes de contato físico já o adotaram.
O Sindicato dos Atletas, por um lado, os clubes e a CBF, por outro, por interesses convergentes e na defesa da saúde e da vida desses artistas, nossos ídolos, que tantas emoções nos despertam, deveriam fomentar este debate e pressionar a Fifa para estabelecer modificações, de forma que traumas como o que sofreram Rafael Marques e Bernard do Atlético Mineiro no jogo de quarta-feira, contra o Santos, não passassem de mais um susto para os milhares de torcedores presentes na Vila Belmiro e, aos que, como eu, assistiam pela televisão.
*Beto Grill é Vice-governador do Estado e médico ortopedista. Esse texto, de autoria dele, foi publicado na Zero Hora de domingo passado).
Anteriormente, quando era deputado, o Beto já havia proposto que, pelo menos nos desenhos animados veiculados em todo o território gaúcho, os personagens - especialmente os vilões, que também são filhos de Deus - passassem a ser obrigados a utilizar equipamentos de proteção individual (incluindo capacetes, item no qual o político cristalense é fissurado), a fim de evitar-se graves traumatismos ao serem atingidos por trens desgovernados, pianos despencados de mudanças ou bigornas voadoras.
Urgem providências enérgicas!
Cruz-credo! inacreditável, já pensaste na cabeçada do Pelé no Banks ser proibida pelo filho pródigo do Cristal ?
ResponderExcluirQuando o Pelé desmaiou em campo ? nos inúmeros de cabeça, os bois de hoje cabeceiam com o joelho se puderem, tudo é uma questão de saber jogar e acaso.