Na partilha da áfrica, o rei Leopoldo da Bélgica recebeu o Congo como propriedade privada.
Fuzilando elefantes, o rei transformou sua colônia na mais pródiga fonte de marfim; e açoitando e mutilando negros, ofereceu látex abundante e barato para a borracha dos pneus dos automóveis que tinham começado a rodar pelos caminhos do mundo.
Ele nunca foi ao Congo, por causa dos mosquitos. Já o escritor Joseph Conrad foi. E em Coração das Trevas, seu romance mais famoso, Kurtz foi o nome literário do capitão Léon Rom, oficial de elite da tropa colonial. os nativos recebiam suas ordens de quatro, e ele os chamava de animais estúpidos. na entrada de sua casa, entre as flores do jardim, erguiam-se vinte estacas que completava, a decoração. Cada uma ostentava a cabeça de um negro rebelde. E na entrada e seu escritório, entre as flores de seu outro jardim, erguia-se uma forca que a brisa balançava.
Nas horas livres, quando não caçava negros nem elefantes, o capitão pintava paisagens a óleo, escrevia poemas e colecionava borboletas.
* Eduardo Galeano, em "Espelhos - uma história quase universal" (L&PM, 2008)
Mantendo a centenária tradição europeia, o Rei de Espanha, Juan Carlos de Lo Carajo a Cuatro, esteve caçando elefantes em Botsuana, na África, recentemente. O fato ganhou os noticiários internacionais porque o soberano ibérico acabou sofrendo uma queda durante o safári e quebrou um osso de seu real esqueleto.
Quanto à caçada, como se vê no texto de Galeano, trata-se de velho e arraigado costume. Fodam-se os elefantes e foda-se também a negada africana... e todos os que não gostarem disso! Que se calem, como o Rei já ordenou a um certo presidente de uma república sul-americana qualquer.
Ah, nas horas vagas, quando não está caçando elefantes, Juan Carlos é o presidente de honra da WWF (World Wildlife Fund) Espanha, conhecidíssima ONG que atua em defesa dos animais.