quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A sombra da maldade


Foto fantástica, publicada ontem no "The Independent". Faz lembrar o refrão de uma antiga marchinha de carnaval que minha mãe (só ela poderia guardar isso na memória!) me ensinou nestas férias:

Quem é que tem o cabelinho pro lado?
Um bigodinho que parece mosca?
Que cumprimenta levantando o braço?
Palhaço! Pallhaço!

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Guerra Fria

Há muito não via o Jornal Nacional. Faz mal para o meu fígado. Hoje (infelizmente) assiti ao tal "noticioso". E fiquei abismado em constatar que voltamos à Guerra Fria! O Bonner e Patrícia Poeta (grande atriz, que já sabe fazer a cara de cu que era especialidade da Fátima Bernardes) mostraram, na corrida, três notícias: uma sobre a situação na Ucrânia, dividida entre "o Ocidente" e o domínio russo; outra sobre manifestantes contrários à "influência cubana" na Venezuela e uma terceira acerca de parentes que não se viam há anos, porque separados à força quando da divisão das Coréias. No embalo dessa última, emendaram uma suposta foto de satélite que indica o contraste entre os dois países asiáticos: sobre o território da do Sul uma claridade, sobre o do Norte, trevas. Ressaltaram, os apresentadores, que a claridade, vista lá de cima, é sinal de desenvolvimento (de onde, concluo, os territórios mais desenvolvidos do planeta são as Farmácias Panvel).
 
 
 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O Peru é aqui!

No fim-de-semana passado estivemos em Porto Alegre. Eu, minha mulher e minha filha fomos ao Barra Shopping. Lá, momentos antes de sairmos, testemunhamos fatos dignos de envergonhar a torcida do Real Garcilaso.
 
Perto de onde fica um dos guichês para pagamento do estacionamento, em poltronas colocadas no centro do corredor, encontravam-se uns oito adolescentes e crianças que, pela aparência (cor, lógico, e roupas que vestiam), claramente não se enquadravam no "padrão xópim".
 
A presença delas foi o bastante para que, do nada, um segurança se postasse no acesso a uma loja de brinquedos. A ele, logo somou-se um outro. Mais adiante, uma moça, também da equipe (utilizando um walk-talk) se colocou, ostensivamente. Na porta de saída do prédio, provavelmente o chefe desse pessoal mostrava-se excitado com a situação, tratando com um subordinado, com certeza, da estratégia a ser usada para coibir eventual "rolezinho".
 
Quando, no pátio, chegamos ao nosso carro, por nós passaram dois dos adolescentes e uma das criança que eram objeto de toda aquela efervecência defensiva. Foram acompanhados de perto, por todo o estacionamento, até a rua, por outro segurança (que tripulava uma motocicleta).
 
Detalhe importante: TODOS os seguranças envolvidos no episódio eram negros ou mulatos. Certamente, quando mais novos, qualquer um deles que tivesse a ideia de visitar um desses locais destinados aos brancos, bonitos e cheirosos seria visto como potencial ameaça. Monitorado, constrangido, seria acompanhado até a saída, que ali não é lugar de negro, de pobre e de quem usa boné Nike falsificado.


 

À la Bandeira


 
Em 1943, Manuel Bandeira escreveu esta poesia, publicada no livro “Lira dos Cinquent’anos”. Leiam:
 
Pardalzinho

  O pardalzinho nasceu
Livre. Quebraram-lhe a asa.
Sacha lhe deu uma casa,
Água, comida e carinhos.
Foram cuidados em vão:
A casa era uma prisão,
O pardalzinho morreu.
O corpo Sacha enterrou
No jardim; a alma, essa voou
Para o céu dos passarinhos!
 
Quem me apresentou para Pardalzinho foi a Fernanda (que é do ramo das Letras), depois que submeti a ela o rascunho de um texto sobre uma caturrita que preparava para publicar aqui neste meio abandonado Bipolar Flexível. Tal texto, pela influência manueliana (quanta presunção!) acabou ganhando novo formato, ficando assim:
 
Habeas Corpus
 
Era uma vez uma caturrita.
Toda verdinha; claro, voava.
Alguém a caçou e vendeu para outro,
que passou a mantê-la - com as asas cortadas - em uma gaiola.
Nos gritos da caturrita
(desesperada, cumprindo pena
pelo crime de ter nascido livre e bonita)
seu carcereiro identifica: "puta! puta! puta!".
Eu, apesar de não entender bem a língua das caturritas,
juro que ouvi mais: "me soltem, filhos da puta!"